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Viva o povo brasileiro
(João Ubaldo Ribeiro)

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O que se representa e se apresenta em Viva o povo brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro, não é uma suposta realidade percebida. Mas também não é simplesmente o efeito enganador de um jogo de ilusões, mesmo quando denuncia que grande parte da história brasileira foi baseada em engodos, negações de ancestralidade, atitudes injustas e corruptas.  Não se deve, portanto, concluir que essa anti-História do Brasil, como nos informa a capa da edição sob análise, aborda unicamente as mazelas brasileiras. De fato, há passagens tórridas no livro, que tanto acontecem nas tramas amorosas quanto em outros momentos, nas narrativas de abusos sexuais impetradas contra negros e negras. Entretanto, descrições de belas paisagens e exemplos de resistência e dignidade são também oferecidos, como é o caso das narrativas que apresentam a religiosidade negra, seus rituais e artifícios para praticar sua fé em contextos profundamente discriminatórios e repressores.Com uma crueza de linguagem que nos incita à reflexão, por exemplo, sobre as relações entre a casa-grande e a senzala na formação da “alminha brasileira” e em seus ecos nas relações e hierarquias sociais vigentes no Brasil de hoje, esse romance anti-épico se junta a outras obras basilares do pensamento nacional sobre a formação identitária e cultural brasileira, nas vozes de Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Darcy Ribeiro, para citar apenas três. Em Viva o povo brasileiro, oferece-se a intensa e reiterada exposição do que provavelmente é o sentido imaginário mais contundente na consolidação da sociedade brasileira, a saber: a crueldade dos processos de dominação, a tradicional formação discursiva da identidade brasileira que por vezes metamorfoseia essa violência em regras de cordialidade que deram bases às relações sociais e étnicas da nação.Por último, cabe posicionar essa obra no âmbito de análise da repercussão dos estudos culturais pós-coloniais na América Latina, em geral, e no Brasil, em particular. Ao se Partir do pressuposto de que a literatura tem referência na realidade, nos limites precários que a linguagem pode mediar, é num entre-lugar – na interface entre história e estória, realidade e ficção, epos e romance – que se coloca Viva o povo brasileiro, no campo da literatura pós-colonial, não apenas no precário sentido de posterior ao período colonial, mas no sentido produtivo de resistência cultural em diálogo com discursos dominantes, sempre atentando para os loci de enunciação e os contextos em que se agenciam os enunciados. A questão do referente é difusa na ficção, quando se narra o percurso de quatro séculos da história do Brasil, em suas quase setecentas páginas, desde a chegada dos holandeses à Bahia, no século XVII, até os anos 70 do século XX. De fato, com a ampliação do arcabouço teórico pós-colonial, os estudos literários passam por inúmeras transformações no que se refere à discussão de conceitos como nação e identidade, o que favorece colocar Viva o povo brasileiro como parte desse novo impulso de (re)contar a história oficial, especialmente do negro no Brasil a partir de suas próprias representações, através das quais se transmuta de objeto da enunciação em sujeito enunciativo. Assim, as vozes historicamente silenciadas conquistam uma dimensão de possibilidade de serem ouvidas. É principalmente por esse novo viés que João Ubaldo Ribeiro merece comparecer como um dos grandes escritores brasileiros de todos os tempos.



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