Matar para não morrer
(Mary Del Priore)
Militar, engenheiro,jornalista, explorador, Euclides da Cunha foi um dos maiores escritores brasileiros e seu livro "Os Sertões" influenciou grandemente todo pensamento literário brasileiro.Metódico, profundo conhecedor da língua portuguesa, ele é no entanto motivo de chacota daqueles que conhecem sua vida e obra.Isso por que em 1906, quando voltava de uma expedição de um ano ao rio Purus no Acre onde demarcou as fronteiras brasileiras e seus acidentes geográficos encontrou sua esposa grávida.Só havia um detalhe: esse filho seria nascido de um outro homem; o cadete Dilermando de Assis (1888 - 1951).
O cadete Dilermando tornou-se amante de Ana ou Saninha quando tinha 17 anos e ela 33.Dessa união nasceria um filho que morreria pouco tempo depois. Mas no ano seguinte ela daria á luz a Luiz, loiro como Dilermando. Era o único loiro numa familia de morenos.Humilhado por 2 anos, Euclides da Cunha seguiu os ditames da época e foi defender sua honra com sangue. Era a máxima da sociedade da época que pregava que esse tipo de comportamento de Ana era inaceitável, e a morte do adúltero era válida, justa. Esta é a tese que a escritora defende em seu livro. Para a escritora tanto Euclides da Cunha quanto Dilermando de Assis foram sofredores, brinquedos de marionete em uma sociedade que adorava destratar a todos.Euclides sofreu por 2 anos até ser convencido a pegar uma arma emprestada e Dilermando sofreu a vida inteira para mostrar ao mundo que matou para não morrer.Dilermando não conseguiu pois o grande algoz dele foi a imprensa ( Como Hoje ?)que tinha um poder de fogo alucinante e não pouparam o jovem.Movido por orgulho, ciúmes, humilhação e outros sentimentos presentes na hora, Euclides da Cunha pegou sua arma e invadiu o quarto onde Dilermando dormia e atirou.Atingiu Dilermando de raspão na virilha e o segundo acertou o peito. Euclides então mirou Dinorah, irmão de Dilermando que levou um tiro nas costas.Mesmo ferido este exímio atirador de elite (Dilermando),bem treinado teve tempo de sacar sua arma e atingir a mão de Euclides.O duelo continuou e Euclides levou três no ombro e no peito.Morreu na escada aos 43 anos de idade. Dinorah ficou paraplégico e se suicidou alguns anos depois no rio Guaiba aos 32 anos. Dilermando, considerando-se culpado se roeu de remorsos e tentava explicar, mas não tinha espaço.
O livro trata justamente deste momento trágico tentando dar nova interpretação á atitude de Dilermando e Ana, baseando-se no julgamento que este sofreu. A imprensa brasileira nunca deu a Dilermando a chance de se explicar. Alegando legítima defesa Dilermando foi absolvido pois Euclides premeditou o fato.Analisando as atitudes da época, Mary quer dar uma chance para a reabilitação de Dilermando, já que mexe-se com sentimentos familiares e trágicos.
Logo depois quando saiu da cadeia absolvido do assassinato, Dilermando de Assis ( 23 anos) e Ana ( 39), casaram-se e constituíram nova família ( tiveram 4 filhos) . A imprensa e todos os amigos não perdoaram Dilermando e execraram-no.Vivendo com Ana viu-se em 1916, envolvido em nova tragédia.Euclides da Cunha Filho, o Quidinho filho de Ana e Euclides após ouvir durante anos que deveria vingar a morte do pai , resolveu agir. Mas como miséria pouca é bobagem, repetiu-se o mesmo resultado. No dia 4/7/1916 entrou num cartório do Rio atirando em Dilermando. Na troca de tiros com o cadete, Quidinho foi morto também.
Processado e preso após passar semanas num hospital, Dilermando novamente usou a tese da legítima defesa e foi absolvido Novamente a imprensa o sacrificou..A partir desses fatos Dilermando de Assis passou a ser uma espécie de pária na história brasileira, mas isso não o impediu de chegar a general do Exercito Brasileiro. Depois de 17 anos de casamento, eles se separaram, pois Dilermando tinha uma amante de 28 anos. Ficaram 18 anos sem se ver. Só se viram quando Ana em seu leito de morte, viu Dilermando pedir-lhe perdão. Apenas 42 anos depois das tragédias, Dilermando deu uma entrevista ao jornal O Cruzeiro, que a escritora coloca no texto dando sua versão para os companheiros de farda, para a sociedade, para a Academia Brasileira de Letras e tantas outras pessoas. Mas não conseguiu convencer ninguém. Morreu execrado.
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