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O delírio de Dawkins
(Alister McGrath e Joanna McGrath)

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Quando Dawkins publicou Deus, um delírio, ele certamente sabia que o livro despertaria a ira dos religiosos e que sua reação não tardaria a vir. Desde então, livros sem conta foram escritos para rebater as idéias do mais famoso darwinista na atualidade. Um dos principais deles, senão o principal, é O delírio de Dawkins, do casal Alister McGrath e Joanna McGrath.
   A obra expõe com eficiência os principais defeitos de Deus, um delírio. As limitações teóricas de Dawkins ficam evidentes no capítulo em que os McGrath explicam o significado das cinco vias de Santo Tomás de Aquino. As cinco vias, afinal, não constituem um argumento a favor da existência de Deus, mas uma demonstração da coerência interna da fé cristã.
   Os McGrath acusam Dawkins de ter sacrificado o rigor acadêmico para compor uma obra de propaganda. É verdade. Para escrever um livro como o que Dawkins ambicionava, teria sido necessário fazer uma pesquisa bem mais ampla, profunda e sólida, uma pesquisa que talvez levaria uma vida inteira. Lamentavelmente Dawkins se preparou mal para escrever Deus, um delírio. Em vez de fazer um estudo sistemático de obras que poderiam ajudá-lo a melhor compreender o tema, limitou-se a leituras indiretas e à pilhagem de citações vindas de fontes pouco confiáveis. O militante que há em Dawkins sufocou o antigo cientista, e os McGrath não se abstém de salientar e lamentar essa transformação.
   Também merece destaque a crítica à idéia de que o mundo seria necessariamente melhor sem a religião: “Dawkins (...) não consegue entender que, ao rejeitar a idéia de Deus, a sociedade tende a transcendentalizar alternativas – como as idéias de liberdade ou igualdade”. Para demonstrar essa tese, o casal relembra a história de Madame Rolande que, levada à guilhotina por falsas acusações à época da revolução francesa, curvou-se para a estátua da liberdade e declarou zombeteira: “Liberdade, quantos crimes são cometidos em seu nome”. É uma crítica sagaz. Quando deixarmos de perseguir e matar em nome de Deus, iremos perseguir e matar em nome da liberdade, do socialismo, da justiça, da ciência, da família, da pátria ou sei lá mais o quê. Fatalismo? Sem dúvida, mas plenamente justificável pelos nossos exemplos.
   O livro dos McGrath também tem defeitos. Um deles é equipar Dawkins aos fundamentalistas religiosos, o que se percebe já no subtítulo da obra: “Uma resposta ao fundamentalismo ateísta de Richard Dawkins”. É verdade que Dawkins escreveu um panfleto para converter os crentes, o que ele mesmo confessa no prefácio de Deus, um delírio. Porém, é preciso lembrar que defeitos iguais não tornam as pessoas iguais. Há uma coisa chamada gradação. Seria injusto comparar um homem que rouba balas no supermercado com um assaltante de bancos, ou uma mulher que mente por necessidade com outra que mente por princípio. O proselitismo de Dawkins, embora indesculpável, é refreado por princípios de civilidade que os fundamentalistas religiosos jamais respeitam. Para converter os crédulos, a única arma que Dawkins usou foi a literatura. Ele não instalou um púlpito no centro de Nova Iorque para pregar o ateísmo. Não entrou em ônibus lotados para aporrinhar os crentes com discursos ímpios. Não ameaçou os religiosos com as penas do inferno, caso suas crenças não fossem aceitas. Não pregou a dizimação de povos, nem a destruição de culturas inteiras para disseminar o ateísmo. Quem dera o combate dos ateus fosse contra um fundamentalismo desse tipo!
   Pior de tudo: os McGrath parecem compreender mal a tese central de Deus, um delírio, aquela segundo a qual as coisas tendem a ir do simples ao complexo – a idéia de um Deus criador violaria essa seqüência natural. “A crença em Deus”, escreve o casal, reproduzindo o que julgam ser a tese de Dawkins, “(...) significa crer que em um ser cuja existência deve ser até mais complexa – e, por conseguinte, mais improvável. Entretanto, esse salto do reconhecimento da complexidade para a afirmação da improbabilidade é altamente problemático”. A formulação está incorreta. Deus não é improvável por ser complexo, mas por ser anterior a toda simplicidade. Um ser tão complexo quanto Deus só poderia surgir como resultado de uma longa evolução, e não como o princípio de todas as coisas. Mas mesmo que a formulação dos McGrath estivesse correta, sua objeção a ela é bastante precária. Eles objetam que a existência do homem na Terra é improvável, mas que, apesar disso, “nós estamos aqui”. Isso sugere que Deus, mesmo sendo improvável, pode estar em algum lugar. O problema é que os McGrath não apontam evidência alguma de que esse Deus existe. Fica-se com a impressão de que eles querem que acreditemos em Deus precisamente porque ele é... improvável!
   Em certos momentos, os McGrath cometem os mesmos equívocos de que acusam o próprio Dawkins, ou seja, aceitar só os dados que confirmam suas idéias, mas nunca os que poderiam desacreditá-las. Insurgindo-se contra o retrato jocoso que Dawkins faz de Jesus, eles enumeram os belos ensinamentos de Cristo, mas omitem por completo aqueles que prejudicam o seu caráter. Para os McGrath, Cristo é aquele que exorta os cristãos a “oferecer a outra face”, a “não deixar o sol se pôr sobre a sua ira”, etc. Mas não é aquele que veio para trazer a espada, nem aquele que demonstra baixa tolerância à rejeição. Em sua boca, há sempre uma ameaça cruel de castigo eterno para aqueles que rejeitam seus ensinamentos ou simplesmente duvidam de que ele é o Messias. 
 



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