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Libertinagem
(Manuel Bandeira)

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Os poemas de Bandeira nascem e crescem dos acontecimentos mais cotidianos, mais comuns, dos momentos que aparentemente sâo banais e insignificantes. Do dia-a-dia mais desapercebido desentranha sua poesia, em que instantes da existência aparecem transfigurados em pura essencialidade da vida.
Detalhes prosaicos e perdidos na rotina descolorida dos dias revelam-se instantes de iluminação, instantes de transcendência e de proximidade da essência mais profunda e mais simples — da vida. O grande milagre da existência, a mais cotidiana, que a consciência da morte revelará como algo intenso, único, irrepetível.
Sua linguagem coloquial e despojada atinge alguns dos momentos mais expressivos da língua: grande intensidade, grande condensação, com imensa simplicidade. Ao lado de Carlos Drummond, Bandeira é o grande incorporador do prosaico e do coloquial na poesia brasileira moderna.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
-Diga trinta e três.
-Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
-Respire
-O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
-Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
-Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Um dos mais conhecidos textos de Bandeira e de todo o Modernismo. O tema é claramente autobiográfico. Observe o tom coloquial e irônico, quebrado por uma frase-síntese de grande intensidade (segundo verso) e pelo final inesperado, desconcertante, do humor absurdo diante da morte sem remédio, final típico de poema-piada característico da poesia moderna.
Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do Iirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com o livro de ponto
expediente protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averigüar no
dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador Político Raquítico Sifilítico De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo De resto não é lirismo Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as
diferentes maneiras de agradarás mulheres etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O Iirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeere
-Não quero mais saber do lirismo que não é Iibertação.
Este texto equivale a um manifesto modernista. Metapoema, poesia que fala de poesia. Observe que ele apresenta negações e rupturas — contra as convenções que desfiguram a criação poética, em especial as do academicismo parnasiano — e apresenta, por outro lado, afirmações Iibertárias típicas da luta modernista. Observe o úItimo verso, frase-síntese, verdadeiro slogan do momento heróico do Modernismo.
Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
Vou-me embora pra Pasárgada É outra civilização
Lá sou amigo do rei Tem um processo seguro
Lá tenho a mulher que eu quero De impedira concepção
Na cama que escolherei Tem telefone automático
Vou-me embora pra Pasárgada Tem alcalóide á vontade
Tem prostitutas bonitas
Vou-me embora pra Pasárgada Para a gente namorar
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura E quando eu estiver mais triste
De tal modo inconseqüente Mas triste de não ter jeito
Que Joana a Louca de Espanha Quando de noite me der
Rainha e falsa demente Vontade de me matar
Vem a ser contraparente Lá sou amigo do rei
Da nora que nunca tive Terei a mulher que eu quero
E como farei ginástica Na cama que escolherei
Andarei de bicicleta Vou-me embora pra Pasárgada...
Montarei em burro bravo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mau
E quando estiver cansado
Deito na beira do no
Mando chamara mãe-d’agua
Pra me contarar as hístórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Texto-sintese da poesia de Bandeira, tanto de sua linguagem como de sua temática da vida que podia ter sido, que precisava ter sido — e que não foi. Observe a enumeração livre dos elementos que compõem Pasárgada — lugar ideal, lugar de sonhos, lugar de desejos, onde a vida é o que deveria ser. Na segunda estrofe, observe a enumeração caótica, sem seqüência lógica, dos elementos. Observe também a extrema simplicidade da linguagem, junto da mais intensa expressividade.
Um dos mais conhecidos poemas com o tema da morte. Observe o tom sereno, familiar, camarada. Consoada, a ceia de fim de ano, no texto representa encontro simbólico com a morte. O poema apresenta um balanço do vivido, sem ilusões quanto à própria finitude, e não se desfigura diante da presença indesejada pelas gentes. O dia ti bom, com cada coisa em seu lugar. Observe também, tal como nos outros textos, a linguagem coloquial, a estrófica irregular, heterogênea,
o verso livre.



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