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O AUTOR COMO GESTO. In: PROFANAÇÕES
(GIORGIO AGAMBEN)

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O texto O autor como gesto de Giorgio Agamben, do livro Profanações, faz referência a palestra proferida por Michel Foucault em 22 de fevereiro de 1969: O que é um autor?
Dois anos antes Foucault havia se tornado famoso com publicação de “As palavras e as coisas”,  no público estavam, dentre outros, Jean Wahl, Lucien Goldmann e Jacques Lacan. Depois das primeiras frases, Foucault cita Becktt: “O que importa quem fala, alguém disse, o que importa quem fala”, sugerindo que em literatura a marca do autor está na singularidade da sua ausência.
Para Agamben a citação de Becktt apresenta contradição porque há “alguém” que anônimo e sem rosto proferiu o enunciado, um gesto que ao negar à identidade, afirma a sua irredutível necessidade.
Foucault esclarece que se fundamenta na distinção entre as noções de autor como indivíduo real e a função-autor, nesta concentra a sua análise. O nome de autor não é um nome próprio como os outros, nem no plano da descrição, nem da designação. Poder-se-ia afirmar que em uma cultura como a nossa, há discursos dotados de função-autor, e outros desprovidos dela. A função-autor caracteriza o modelo de existência, de circulação,  de funcionamento de discursos no interior de uma sociedade.
Disso nascem diferentes características de função-autor no nosso tempo: um regime particular de apropriação, a possibilidade de distinguir e selecionar os discursos entre literários e científicos ou certificar o seu caráter apócrifo; a dispersão da função enunciativa e a possibilidade de construir uma função transdiscursiva.
Dois anos depois numa versão modificada da conferência, Foucault opõe mais drasticamente o autor real à função-autor, afirmando que o autor é o princípio funcional através do qual se criam obstáculos para a livre circulação, manipulação, composição, decomposição e recomposição da ficção.
Agamben diz que na divisão entre o sujeito-autor e os dispositivos que consolidam sua função na sociedade aparece um gesto que marca a estratégia foucaultiana. Foucault repete que nunca deixou de trabalhar sobre o sujeito, por outro lado, o sujeito como indivíduo vivo está presente através dos processos objetivos de subjetivação e dos dispositivos que o inscrevem e capturam nos mecanismos de poder. Os críticos questionaram Foucault sobre a presença contemporânea de uma indiferença pelo indivíduo de carne e osso e, de um olhar estetizante da subjetividade. Foucault tinha consciência dessa aporia. Ao apresentar o método  para o Dictionnaire des philophes, ele dizia que rejeitar o recurso filosófico a um sujeito constituinte não significa que ele não exista, a rejeição tem por objetivo fazer aparecer os processos que formam e transformam sujeito e objeto.
Após a conferência sobre o autor, Foucault responde a Lucien Goldmann sobre cancelar o sujeito individual, dizendo que definir como se exerce a função-autor não significa dizer que o autor não existe.
A função-autor aparece como processo de subjetivação mediante o qual um indivíduo é identificado e constituído como autor de um certo corpus de textos. Toda investigação sobre o sujeito como indivíduo cedeu lugar ao regesto que define as condições e as formas sob as quais o sujeito pode aparecer no discurso. Assim, Foucault não pára de repetir que a marca do escritor reside na sua ausência. O autor não está morto, mas pôr-se como autor é  ocupar o lugar de morto, porque o sujeito-autor se atesta pelos sinais de sua ausência.
Agamben diz que na obra de Foucault apenas o texto A vida dos homens infames,  em que o encontro com o poder, no mesmo momento em que as deixa marcadas de infâmia, arranca da noite e do silêncio existências humanas que, do contrário, não teriam deixado nenhum sinal. Os escribas anônimos, os funcionários menos graduados que redigiram observações não pretendiam nem conhecer e nem representar, o objetivo era marcar a infâmia.
Para Agamben o texto de 1982 pode conter algo parecido com a chave de leitura da conferência sobre o autor, que a vida infame constitua de algum modo o paradigma da presença-ausência do autor na obra. Então se acharmos o gesto inexpresso, como o infame, o autor está presente apenas em gesto, na medida que nela instala um vazio central.
O que costura as vidas infames com as escassas escrituras que as registram não é uma relação de representação ou simbolização, mas algo essencial: foram postas em jogo. As personagens infames estão no umbral do texto que foram postos em jogo, como o gesto que o tornou possível e lhe excede e anula a sua intenção. Como exemplo para explicar o gesto através do jogo de palavras, Agamben cita um episódio do Idiota de Dostoievski e a poesia de César Vallejo.
Agambem conclui o texto afirmando que um sentimento e um pensamento exigem um sujeito, mas para que se façam presentes precisam que alguém pegue um livro e leia. O lugar; o ter lugar, está no gesto no qual autor e leitor se põem em jogo no texto, e ao mesmo tempo fogem disso, o autor é o fiador do texto e o leitor também, pois estão em relação com a obra sob a condição de continuarem inexpressos, assim a aporia inicial de Foucault fica menos enigmática porque o sujeito, assim como o autor, como a vida dos homens infames são o resultado do encontro com os dispositivos em que foram postos. Portanto, uma subjetividade produz-se onde o ser vivo ao encontrar a linguagem e pondo-se nela,exibe em um gesto a própria irredutibilidade.



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