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A Pobreza da Riqueza
(Cristóvam Buarque)

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Os ricos demonstram mais ostentação no Brasil do que em qualquer outro país. Belos carros, belas mansões mas são obrigados a escondê-los dentro de muralhas como se fossem castelos medievais, vigiados por guardas que se revezam. Quando saem a noite para jantar em restaurantes finos e tão caros que os ricos da Europa não frequentariam, perdem o apetite diante da pobreza que ali bem perto arregala os olhos pedindo um pouco de pão. Por causa da pobreza à sua volta, os brasileiros ricos para ficarem mais ricos necessitam perder dinheiro, gastando cada vez mais apenas para se proteger da realidade em que vive, hostil e ineficiente.

De viagem ao exterior, os ricos sabem que no hotel onde se hospedarão serão vistos como assassinos de crianças na Candelária, destruidores da Floresta Amazônica, usurpadores da maior concentração de renda do planeta, portadores de malária, de dengue e de verminoses. São ricos empobrecidos pela vergonha que sentem ao serem vistos pelos olhos estrangeiros. Esta mesma pobreza de visão impediu os ricos brasileiros de perceberem, cem anos atrás, a riqueza que havia no braço trabalhador do escravo liberto se lhe tivesse dado direito de trabalhar a imensa quantidade de terra ociosa de que o país dispunha.
 
Se a terra dos latifúndios tivesse sido colocada à disposição dos braços dos ex-escravos, a riqueza criada teria chegado aos ricos de hoje, que viveriam em cidades sem o peso da imigração descontrolada e com uma população sem miséria. A pobreza de visão dos ricos impediu também de verem a riqueza que há na educação de um povo. Ao longo de toda a nossa história, os nossos ricos abandonaram a educação do povo, desviaram os recursos para criar a riqueza que seria só deles, e ficaram pobres: contratam trabalhadores com baixa produtividade, investem em modernos equipamentos e não encontram quem os saiba manejar, vivem rodeados de compatriotas que não sabem ler o mundo ao redor, não sabem mudar o mundo, não sabem construir um novo país que beneficie a todos. Muito mais ricos seriam os ricos se vivessem em uma sociedade onde todos fossem educados.
 
E assim os ricos brasileiros são pobres de tanto medo. A pobreza foi achar que poderiam ficar ricos sozinhos, construíram um país doente e vivem no meio da doença. Se percebessem a riqueza potencial que há nos braços e nos cérebros dos pobres, os ricos brasileiros poderiam reorientar o modelo de desenvolvimento em direção aos interesses de nossas massas populares. Liberariam a terra para o  trabalhador, todos progrediriam.

Se tomassem esta decisão, enriqueceria o Brasil inteiro - os pobres sairiam da pobreza e os ricos sairiam da vergonha, da insegurança e da insensatez. Porém, isso é esperar demais. Os ricos se fazem tão pobres que não percebem a triste pobreza em que usufruem suas malditas riquezas.



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