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O caso Galileu: 350 anos depois - Parte 6
(Mariano Artigas; PDF)

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O caso Galileu: 350 anos depois


Em 1624 Galileu foi a Roma e o Papa o recebeu seis vezes, com grande cordialidade. Mas Galileu comprovou ao sondar sobre o assunto do copernicanismo, que se bem Urbano VIII não o considerava herético (já vimos que nunca foi declarado como tal), o considerava como uma posição doutrinalmente temerária e, além disso, estava convencido de que nunca poderia se demonstrar: dizia que os mesmos efeitos observáveis que se explicam com essa teoria, poderiam ser devidos à outras causas diferentes, pois caso contrário, estaríamos limitando a onipotência de Deus. Tratava-se de um argumento que, aparentemente, tinha muita força, e parecia que quem pretendesse demonstrar que o copernicanismo estava pondo limites à onipotência de Deus.

Apesar de tudo, o humor do novo Papa e a posição estratégica de seus amigos levou Galileu a embarcar em um velho projeto pendente: escrever uma grande obra discutindo o copernicanismo e, desde então, argumentando a seu favor. Simplesmente, a apresentaria como um diálogo entre um partidário do geocentrismo e outro do heliocentrismo, sem deixar resolvida a questão. E acrescentaria o argumento do Papa. Mas o leitor inteligente logo se daria conta de que ele tinha razão.

Além disso, Galileu pensava que dispunha de um argumento novo que demonstrava o movimento da Terra: o argumento das marés. Segundo Galileu, as marés só poderiam ser explicadas supondo o movimento da Terra (e não aceita, como se soasse a astrologia, que se devesse à influência da Lua). Inclusive queria intitular sua obra desse modo, como um tratado sobre as marés, mas o Papa soube que pretendia utilizar este título e, como soava demasiadamente realista (de fato o era), aconselhou colocar outro título que não parecesse uma prova do movimento da Terra (desde então, como sabemos, o argumento das marés estava errado). Galileu mudou o título do livro, que passou a chamar Diálogo em torno dos grandes sistemas do mundo, o ptolomaico e o copernicano. Um título muito acertado devido, em parte, à interferência de um Papa que não queria que se tratasse o movimento da Terra como algo real: mas sem dúvida, essa era a intenção principal de Galileu em sua obra. Galileu estava disposto a conceder tudo o que fosse necessário, com tal de publicar uma obra onde se recorressem os argumentos contra a posição tradicional e a favor do copernicanismo.

Galileu acabou de redigir o Diálogo em 1630, e o levou a Roma para obter a permissão eclesiástica para imprimi-lo. A permissão deveria ser concedida pelo Mestre do Sagrado Palácio, o dominicano Niccolò Riccardi, que não sabia astronomia mas era admirador de Galileu e sempre tinha se mostrado desejoso de ajudá-lo. Agora Riccardi se encontrou em um compromisso. Deu a entender que não haveria problemas, ainda que devesse ajustar uma série de detalhes. Galileu voltou a Florença, a peste causou sérias limitações ao tráfego e correio entre Florença e Roma, e aí começou uma cadeia de equívocos que alargaram a concessão da permissão e deixou Galileu irritado. Ao fim de um ano, Galileu solicitou e obteve a intervenção do Grande Duque de Toscana e de seu embaixador em Roma para obter a permissão. Riccardi, que também era toscano e era parente da esposa do embaixador, foi submetido a uma pressão muito forte. Finalmente concedeu a permissão para que se imprimisse o livro em Florença, mas com uma série de condições que se fazia saber Galileu e o Inquisidor de Florença. Riccardi sabia o que o Papa pensava: que só se poderia tratar o copernicanismo como uma hipótese matemática, não como uma representação da realidade; as condições e advertências que deu se encaminhavam a garantir, que não estava nada claro na obra de Galileu.

Galileu introduziu a mudança, mas, seguramente, nem todas as que tinha introduzido Riccardi e tivesse desejado o Papa. No livro, Simplício, o personagem que defende a posição tradicional de Aristóteles e Ptolomeu, sempre sai perdendo. Simplício foi um dos mais famosos comentadores antigos de Aristóteles, mas na obra de Galileu dava a impressão de que seus argumentos e sua atitude correspondiam muito bem a seu nome. Por outro lado, o argumento favorito do Papa aparecia no final da obra: depois de ter exposto todos os argumentos físicos e filosóficos, Simplício, precisamente Simplício, utilizava esse argumento, e ainda que Salviati, o defensor de Copérnico (e Galileu) o aprovasse, o final é muito breve e forçado. Para maior confusão, uma introdução aprovada por Riccardi, em que se explicava que essa obra não pretendia estabelecer o copernicanismo como teoria verdadeira, apareceu impressa em um tipo diferente do resto da obra, dando a impressão de uma adição postiça.

Continua



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