Resumo de Uma aldeia atormentada - Dr. Adérito Tavares

Quando uma mulher idosa foi levada perante o juíz e os jurados reunidos na sala do tribunal, as jovens sentadas nos lugares da frente começaram a agitar-se convulsivamente. Contorceram-se com ataques e espasmos, soltavam gritos frenéticos como se mãos invisíveis as beliscassem e sufocassem.
Obedecendo à ordem do funcionário do tribunal, a idosa tocou nas jovens, uma de cada vez, acalmando-as. Tal seria ou não prova segura de que possuía poderes satânicos sobre elas, de que era, de facto uma bruxa?
Entre Maio e Outubro de 1692, os acontecimentos ocorridos na aldeia de Salém, situada a oeste do porto de Salém Town e a 20km para norte de Boston, levaram a que 20 pessoas inocentes fossem executadas depois de condenadas por bruxaria e a que perto de outras 200 fossem presas. A acusação era a de "atormentarem" uma série de raparigas e mulheres jovens e de terem um pacto com o demónio.
A aldeia de Salém era um prolongamento da primeira colónia puritana de Plymouth e, a par de Salém Town, formava o núcleo da nova colónia britânica de Massachussets. No início de 1692, algumas jovens da aldeia, com idades entre os 9 e os 19 anos, começaram a sofrer ataques de choro e de gritos, ao mesmo tempo que se contorciam, corriam errácticamente e se lançavam contra as paredes.
Todas elas tinham passado horas ouvindo Tituba, escrava das Índias Ocidentais que servia em casa do Reverendo Samuel Parris. Ela lia-lhes a sina e contava-lhes histórias de vodu. Na verdade, as primeiras a manifestar os sintomas de histeria foram a própria filha de Parris e a sua prima. Quando questionadas sobre o seu estado, acusaram de bruxaria Tituba e duas outras velhotas. Em breve, mais uma dezena de jovens mulheres e raparigas de Salém começaram a experimentar os mesmos sintomas.
Ao serem interrogadas na sessão instrutória elas "vociferaram" os nomes daquelas que, alegavam, as atormentavm através de "espectros" que tomavam os seus atributos físicos. A "prova espectral" tornou-se fulcral nos trâmites judiciais, já que, quando as raparigas eram confrontadas com a acusada, tinham ataques, imitando os gestos e palavras desta.
Em Maio Sir William Phip, primeiro governador real do Massachussets, criou um tribunal especial em Salém Town e nomeou para presidir os julgamentos o seu vice-governador, Willian Stoughton, devido á sua austeridade. Este e os juízes seus colegas, incluíndo Samuel Sewall que veio posteriormente a arrepender-se, acreditavam no poder da bruxaria e na sinceridade do sofrimento das jovens.
Embora fossem com frequência pressionadas a confessar, muitas das acusadas faziam-no de modo próprio, pois, nesse caso ficariam com a pena suspensa e seriam postas em liberdade; se o não fizessem, seriam enforcadas.
Os juízes aceitavam incondicionalmente todas as "provas espectrais" e as acusações recaíam tanto em velhotas impopulares como noutras de irrepreesivel reputação. Não tardou que bastasse ser-se parente de uma pessoa acusada para se ficar sob suspeita. As acusações começaram depois a recair nos habitantes de aldeias vizinhas e em membros proeminentes da comunidade. Figuravam entre estes o Reverendo George Burroughs, o antigo pastor da aldeia de Salém, e até a esposa do Governador Real.
No final do Verão, porém, as pessoas começaram a virar-se umas contra as outras e a desconfiar das testemunhas.
Em Setembro de 1692, ao regressar de uma viagem à fronteira com o Canadá, Sir William tomou conhecimento da situação. Perante as cadeias cheias e os protestos dos cidadãos responsáveis, suspendeu as sessões do tribunal especial. Os últimos enforcamentos deram-se nesse mês; os restantes prisioneiros acabaram por ser ilibados ou beneficiar de pena suspensa.
Ao todo condenaram-se á morte 30 dos 200 acusados. Desses, 19 foram enforcados, 2 morreram na prisão e Giles Corey, que se recusou a admitir a culpa foi esmagado por pedregulhos. Dos demais, duas execuções foram adiadas, um condenado fugiu e cinco confessaram para escapar à forca.

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