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Sofrimento e morte numa prisão flutuante
(Dr. Adérito Tavares)

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Mesmo os mais calejados criminosos britânicos tremiam quando ouviam a sentença “transporte para as colónias”, pois tal significava passar possivelmente até dois anos numa prisão flutuante antes de ser encerrado durante meses no porão apinhado de um navio de degredados elevados para um destino inimaginável. A sentença era parcialmente cruel para quantos apenas tinham cometido pequenos delitos, mo caçadores furtivos ou carteiristas.
A sobrelotação e a falta de salubridade tornavam terrível a vida a bordo destes navios-prisões, condições agravadas pela corrupção e pela pequena criminalidade. Mal o condenado subia a bordo era despojado da roupa e dos seus haveres pelos outros presos ou pelos guardas.
Enquanto aguardavam transferência para um navio de transporte, os presos labutavam nas docas. Eram-lhe cometidas diversas formas de trabalho forçado, desde a construção naval à pintura, ao carregamento de madeira e às tarefas de limpeza. Mas, se estas condições eram más, as piores estavam ainda para vir.
Entre 1787 e  1800, largaram dos portos britânicos para a Austrália 42 navios que transportavam em média 200 condenados. Após as Guerras Napoleónicas (1793-1815), o número de navios aumentou rapidamente: só em 1833, 36 navios transportavam 6776 deportados para o outro lado do Mundo.
Em 1786, as condições a bordo da Primeira Esquadra, organizada pela Marinha Real, tinham sido razoavelmente humanitárias. Porém, a partir de 1788, a Marinha confiou o transporte a fornecedores privados, cuja única preocupação era obter lucros chorudos. Dos 1006 prisioneiros que saíram de Portsmouth a bordo dos três navios da chamada Segunda Esquadra, 267 morreram durante a viagem.
O desembarque deste segundo contingente de condenados britânicos em Botany Bay, na Nova Gales do Sul em 1790, foi uma visão  de horror pelo menos para uma testemunha ocular. “Ao serem  trazidos para o ar livre”, escreveu o Reverendo Johnson, capelão da nova colónia, “uns desmaiaram, outros morreram no convés e ainda outros no escaler antes de chegarem a terra. Muitos não conseguiam andar, ter-se de pé ou mexer-se sequer, pelo que eram amparados por companheiros. Alguns deles gatinhavam, outros eram levados asa costas.”
Durante a viagem de quatro meses, os degredados ficavam confinados num porão sem ar e infestado de parasitas, acorrentados dois a dois pelos tornozelos. Esfaimados e torturados pela sede, os prisioneiros muitos deles febris, à beira da morte, jaziam em camas ensopadas em vomitado e excrementos. As rações de bordo eram tão más, que os presos chegavam a comer os cataplasmas que lhe cobriam as feridas das feridas. Quando um deles morria, os outros não divulgavam o facto, para poderem continuar a receber a ração que lhe era destinada. Dia e noite, um pensamento ocupava quase exclusivamente a mente de cada homem – obter água para beber. Com efeito, cada homem recebia diariamente apenas pouco mais de 1L de água fétida.
Em 1815, a acumulação de protestos acerca destas condições a bordo dos navios de transporte de degredados obrigou o Governo Britânico a publicar normas mais rigorosas. Em todas as viagens tinha de haver um médico e o pagamento por cada homem transportado só era efectuado depois de este ter sido entregue são e salvo. Estas normas restringiram igualmente os abusos, por vezes sádicos, dos oficiais e tripulantes.
Ao longo de décadas, as condições continuaram a melhorar, a comida fornecida era melhor e os presos tinham mais tarefas ao ar livre, que os mantinham ocupados e fisicamente mais aptos.
 Quando estes transportes acabaram, em 1868, já tinham sido deportados para a Austrália 16200 presos. Na realidade, aqueles que faziam a viagem de três ou quatro meses nos navios de degredados tinham maiores hipóteses de sobreviver que os vulgares passageiros de um navio mercante.



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