Auto da Barca do Inferno - Cena do Judeu
(Gil Vicente)
O Judeu é uma personagem-tipo representativa dos fiéis do judaísmo. Apresenta-se em cena com um bode às costas, símbolo da sua religião que utiliza o sacrifício destes animais como modo de expiação dos pecados. Os judeus são tão pouco respeitados que o próprio Diabo se mostra descontente com a chegada deste passageiro indesejado que, ainda por cima, insiste que o bode também embarque. O Judeu dispõe-se logo de início a pagar a sua passagem e a do bode, sublinhando o seu carácter mesquinho que privilegia o dinheiro acima de tudo. Perante a recusa do Diabo em embarcar o bode, o Judeu apela ao Fidalgo e roga pragas ao Diabo. Quem lhe responde é o Parvo insultando-o com o discurso desconcertante que o caracteriza. O Diabo ainda tenta que o Judeu embarque na Barca da Glória, mas o Parvo, mais uma vez, faz lembrar que o Judeu não respeitava a religião Católica pois tinha "mijado" nos "finados n'(er)gueja, de São gião! E comia a carne da panela no dia de Nosso Senhor!", ou seja, não respeitava o jejum nos dias Santos. A solução encontrada para este passageiro preterido pelas duas Barcas é a de que vá a reboque na Barca do Inferno juntamente com o bode, pois até o Diabo o considera "mui ruim pessoa". Esta cena explicita claramente o modo com os Judeus eram vistos na sociedade portuguesa da época.
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