Hulk
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Aventura. 1966. Proibido de prosseguir com suas experiências, o cientista David Banner injeta em si mesmo o resultado de seu projeto com tecidos de animais, arriscando a própria vida. Nada acontece, mas a descoberta de desconhecida substância no DNA de seu recém nascido filho Bruce, herdada geneticamente do pai, provocará uma tragédia na família. Trinta anos depois, Bruce Banner é um cientista atormentado: embora não lembre de sua infância, sofre um pesadelo recorrente e trabalha com regeneração genética como o pai, dado como morto. Convivendo com a colega e ex-namorada Betty Ross, e o assédio da empresa Atheon (que quer financiar-lhe as pesquisas com fins bélicos), Bruce será acidentalmente exposto a uma dose letal de radiação gama. Nada parece sofrer, até que, numa noite, visitado no hospital por um homem que diz não apenas ser seu pai, mas também saber o que está aprisionado em seu interior, Bruce sofre uma crise de nervos que o leva a se transformar num imenso ser de pele esverdeada e força assombrosa, deixando um rastro de destruição ao fugir do hospital. Será então perseguido pelas forças armadas, que sob o comando do General Ross (pai de Betty), quer estudá-lo para a criação de um exército.
Em entrevistas, o diretor chinês Ang Lee disse querer trabalhar com o lado primitivo que trazemos em nosso íntimo, e que seu Hulk seria uma metáfora dos EUA, um gigante precisando de controle. Ignorando-se a pretensão, é possível se divertir com essa adaptação dos quadrinhos da editora Marvel, a nova fonte de inspiração para os filmes de aventura norte-americanos desde que X-Men foi sucesso de bilheteria. Hulk não é tão denso ou inteligente, mas diverte e é fiel aos quadrinhos de Stan Lee e Jack Kirby. Desde que se observe algumas condições.
A primeira é ter paciência para aturar a primeira metade do filme, que burocraticamente mostra as origens do monstro e apresenta os insossos personagens. Eric Bana, o Bruce, nos faz sentir saudades de Bill Bixby, que fez o cientista no seriado televisivo nos anos 80 junto com o fisiculturista Lou Ferrigno, que aparece, junto com o criador Stan Lee, numa ponta como policial, logo no início do filme. O filme também homenageia a linguagem dos quadrinhos, utilizando nos créditos o mesmo tipo de fonte dos balões e dividindo cenas em quadros como num gibi, dando a impressão de que Hulk é na verdade dirigido por Brian De Palma.
A segunda condição é se acostumar à animação computadorizada que dá vida ao monstro, mas deixa-o artificial, quase um boneco tipo o ogro de Shrek. A tecnologia de efeitos especiais certamente já permite confeccionar criaturas mais realistas, mas deixar o filme com cara de "game" deve ter sido intencional, para agradar a garotada que é o público alvo. Se o espectador adulto conseguir relaxar na poltrona mesmo assim, pode gostar das peripécias deste gigante que um crítico comparou a um Prometeu moderno, o herói grego que, por trazer o fogo (e a liberdade diante dos deuses) aos homens, recebeu como punição o aprisionamento a uma montanha com um abutre a lhe comer eternamente o fígado. O Hulk de Ang Lee, ao contrário do da TV, não é visto como uma maldição por sua outra face. No filme, Bruce Banner confessa tratar-se de "raiva, liberdade e poder", e que, quando está por aí, raivoso, livre e poderoso, ele gosta.
E não dá para discordar. A sociedade obriga o homem a engolir tantos sapos que ver um sujeito inchando de raiva, quebrando tudo e gritando a plenos pulmões torna-se um alívio. Ao contrário de nós, Hulk bota para fora as coisas que o incomodam, tem poder para reagir a elas e é livre. E ainda conquista a Jenniffer Connelly. Esse Hulk catártico é o grande achado de Ang Lee, cujo ápice é a luta com o próprio pai, exposto também à radiação mas com poderes diferentes. Aqui o monstro externa tudo o que tem de furioso, numa espécie de terapia ensandecida, em empolgante sequência. Essa mistura de ação com psicologismo também é bem aproveitada no confronto com as forças armadas, quando Hulk, agarrado a um jato e levado até grandes alturas, fica sem oxigênio e tem de soltar-se. Na queda, o sonho do cientista encontrando o monstro no reflexo do espelho, além de fiel aos quadrinhos, expõe em poucas imagens o conflito do personagem.
E o que não falta aqui é personagem com sonho recorrente. Além de Banner, também Betty fica sonhando com a mesma coisa repetidas vezes. Recurso fácil para apresentar o drama do personagem sem construir cenas e diálogos interessantes, e muito usado em filmes dos mais diversos gêneros. Da mesma forma que a visão da fera de seu próprio reflexo nas águas de um lago. E a aporrinhação de Talbot, antagonista que quer utilizar o monstro para construir soldados indestrutíveis. Tanto lugar comum, que se conclui que as cenas de ação, como a do ataque dos cães mutantes ou a dos tanques de guerra, foram pensadas e realizadas primeiro, servindo o resto apenas para emendar, de qualquer jeito, tais cenas. Já que é entretenimento e que a intenção é vender bonecos e jogos, não custava colocar mais humor na trama.
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