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Equus
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Ao ser insistentemente chamado pela advogada e amiga Ester para tratar de um novo caso, o psiquiatra de uma cidadezinha interiorana reluta. Com excesso de pacientes e carência de entusiasmo, Martin, o tal psiquiatra, não se vê em condições de adicionar mais insanidade à sua própria vida. Muito menos considera-se capaz tornar "normal" quem quer que venha em sua procura. Mas ele aceita, pela amiga e pela curiosidade despertada com o novo paciente, Alan, um rapaz de 17 anos condenado por cegar seis cavalos com um estilete de metal.

É partindo desta bizarrice que o dramaturgo inglês Peter Shaffer (de Amadeus) constrói um dos mais instigantes e intensos textos do teatro moderno. Escrito em 1926 e levado às telas em 1977 por Sidney Lumet (com Richard Burton no papel agora vivido por Otávio Augusto, e que no Brasil também já contou com a atuação de Paulo Autran), Equus é um drama psicológico bombardeado por poderosas imagens da mitologia (cristã, principalmente) que entram em conflito com o ideal rotineiro de normalidade que nos acostumamos a ter nos braços. Erguido sobre uma base depois fartamente utilizada, ainda hoje a história do psiquiatra desiludido e do paciente atormentado com a figura de um deus eqüino surpreende, choca e comove.

Trata-se, de um lado, da angústia de um personagem que, consciente da estagnação de sua própria vida, vê-se obrigado a não apenas acompanhar a paixão (coisa que jamais teve a sorte de experimentar) incontrolável que o outro leva às últimas conseqüências, mas também a diagnosticar essa paixão como um mal a ser extirpado. E, pior, ser o responsável pela "cura" do outro. Casado com uma mulher que há seis anos não lhe sente o toque dos lábios, Martin vive esse acúmulo de dias nas costas seguindo uma normalidade que, de rotineira e insatisfatória, se tornou tão questionável quanto a insanidade de seus pacientes.

Por outro lado, tem-se todo um universo interior que, criado sob o caos de uma mente perturbada desde a infância, rompe enfim a barreira que o separava da realidade exterior. Filho de extremos opostos (pai ateu marxista e mãe fanática religiosa), Alan teve uma educação falha, quase não freqüentou escolas e suas leituras resumiam-se à Bíblia e a narrativas heróicas de cavaleiros. Isso, mais as seguidas horas diante da TV (principal ligação com o mundo), resultariam na formação de um imaginário muito particular, povoado por figuras divinas e caracterizado por uma fixação em cavalos. Nestes, o porte, a musculatura e a capacidade de unir-se ao cavaleiro, em corridas através de campos vastos, tanto se associariam a um ideal de liberdade e poder que Alan os veria como objeto de idolatria, que a falta de informação e a chegada da adolescência iriam misturar, de forma confusa e intensa, ao desejo sexual.

Sob a forma de bem inseridas recordações, durante o tratamento, a mente de Alan vai sendo aberta ao público por Martin. E para ilustrá-la, o diretor Luiz Furlanetto realizou o feito de unir economia, elegância e imaginação. Do mesmo cenário imitando uma cocheira faz-se tanto o escritório de Martin quanto as demais localizações do texto, com as boas soluções narrativas (como a ida ao cinema) culminando na original concepção dos "cavalos", que se tornam convincentes por mais que sejam artificiais e enchem os olhos do espectador, quando surge rompendo o ritmo sombrio e silencioso da trama. Espetáculo denso, intimista, Equus impressiona pelo peso dramático beneficiado ainda pela trilha sonora assinada por Mauro Perelmann, e pela iluminação de Wilson Ruiz. Furlanetto estabelece, assim, uma sólida base sobre o qual coloca seus atores.

No elenco, Otávio Augusto oferece à platéia uma atuação irresistível. O Martin que ele compõe é um homem desiludido e plenamente consciente disso. É esta lucidez que permite tiradas inteligentes de auto-ironia, que o ator enriquece com uma humanidade comovente. Mesmo com todo o cansaço e descrença, o psiquiatra de Otávio Augusto ainda consegue manter a capacidade de ficar pasmo com o homem. Ao lado dele, o jovem Pedro Garcia Netto poderia facilmente desaparecer, mas agarra-se com tanto sentimento a seu personagem que a entrega rende bons momentos. Deve-se destacar ainda o trabalho de Leonardo Thierry e Amélia Bittencourt que, como os pais de Alan, conseguem fugir da caricatura e mostrar personagens que, incapazes de se comunicar, terminam por transformar o amor em opressão.



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