Resumo de O Atlântico Negro e o Caribe Estendido

Para descrever as culturas e os agentes culturais de um dado território (em sentido amplo), é imprescindível que se declare, desde o início, que esse território é uma metáfora carregada de proposições políticas simbólicas e encorajadoras. Metáfora no sentido de “comunidades imaginadas”, do modo como as concebe Benedict Anderson (1991, p. 5-7), através do conceito de “nação”: pelo viés antropológico, nação é um comunidade política imaginada como tendo limites e soberania; seus membros dividem, mesmo sem se conhecerem, um imaginário de comunhão e de estilo de imaginário sobre si mesmos; há uma concepção de fraternidade e camaradagem, mesmo que haja desigualdades e exploração real. Mesmo não sendo nações, no sentido mais estrito, o Caribe Estendido e o Atlântico Negro são aqui tomados nesse ambiente que conforma as comunidades imaginadas de Aderson, ou seja, como cartografias imaginadas.

Esse lugar imaginado chamado Caribe Estendido é o termo aqui usado para contrastar com o Caribe Político-Geográfico ou Índias Ocidentais, como o Caribe também é conhecido nas culturas de língua inglesa. O termo Caribe Estendido foi cunhado por Immanuel Wallerstein (1974), para se referir a uma vasta área de culturas distintas, mas que guardariam traços caribenhos em comum, se estendendo desde o que agora é o Sul da Virgínia, nos EUA, até o Nordeste do Brasil, mais especificamente a Bahia, ou ainda mais precisamente: o Recôncavo baiano. Visto de outra maneira, Wallerstein ainda descreve essa região como incorporando desde o “resgate” de John Smith por Pocahontas – fronteira Norte – até a plantação de Robinson Crusoé na Bahia – fronteira Sul. Assim, tiro proveito de uma metáfora geográfico-intelectual para buscar as interseções entre visões, reescrituras e representações de afrodescendentes e suas linguagens acima e abaixo da Linha do Equador.

É similar ao outro lugar imaginado e também geográfico-metafórico, que é o Atlântico Negro (GILROY, 2001), que nos retira as amarras da noção de identidade nacional para pensar a cultura nesse território e nos oferece o reconhecimento do mundo contemporâneo como um híbrido cultural, com a negação da insistência em se teorizar etnocentricamente. O Atlântico Negro, como o nome indica, inclui as costas atlânticas dos continentes europeu, africano e americano

Como informa Costa (2002), o legado cultural do Atlântico Negro (e incluo o do Caribe Estendido) é uma metalinguagem de protesto polivalente em face de circunstâncias opressivas de várias origens. Isso implica que não há uma conexão linear e imediata entre a herança do chamado Atlântico Negro e um agrupamento populacional específico. A implicação é também a de que, apesar do predomínio de uma cultura negra, o sincretismo e a mestiçagem dão o tom às diversas manifestações culturais dessas metáforas territoriais estendidas no Atlântico. É nesse tecido caribenho atlântico que também pode se inserir ainda outra metáfora-território, já mais conhecida: a América Latina, que também inclui o Pacífico.
Referências
ANDERSON, Benedict. Imagined communities: reflections on the origin and spread of nationalism. London - New York: Verso, 1991.
COSTA, Sérgio. A Construção Sociológica da Raça no Brasil. Estudos Afro-Asiáticos. v.24, n.1. Rio de Janeiro, 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid =S0101-546X2002000100003&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt#nt01>. Acesso em: 19 dez. 2003.
GILROY, Paul. O Atlântico negro: modernidade e dupla consciência. Trad. Cid Knipel. São Paulo: Editora 34; Rio de Janeiro: Universidade Cândido Mendes, Centro de Estudos Afro-asiáticos, 2001.
WALLERSTEIN, Immanuel. The modern world-system: capitalist agriculture and the origin of the European world-economy in the sixteenth century. New York: Academic Press, 1974.

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