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Conceito de "chulice" ou linguagem chula
(Isaias Carvalho)

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Uma busca rápida em um dicionário de língua portuguesa vai trazer o conceito de "chulice" como o que caracteriza o que é chulo, ou seja, grosseiro, baixo; obsceno, pornográfico; ou como a linguagem que é usada pela ralé. Mantenho esses sentidos, mas quero abordar o que tenho chamado de “cânone grosseiro”, em que não centralizo as considerações no aspecto de a linguagem ser apenas não-padrão, apesar de ser aí que mais se realiza, mas naquele caráter de transgressão, indisciplina, agressão, ofensa, obscenidade e de toda sorte de impropérios que se fazem presentes em obras consagradas, como posso indicar como ilustração específica feita através das duas obras do que pode ser denominado o “cânone pós-colonial”: Omeros, de Derek Walcott (1992) e Viva o povo brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro (1984). Para um primeiro contato com esse “outro” objeto de análise da linguagem literária aqui privilegiado, um fragmento de cada uma dessas obras: Em Omeros, na cena de conflito e duelo entre os pescadores Achille e Hector por uma lata surrupiada pelo segundo (na verdade, lutavam por Helen, na simbologia homérica que impregna a obra de Derek Walcott):“Touchez-i, encore: N’ai fendre choux-ous-ou, salope!”“Mexa nisso de novo, e eu lhe parto a bunda, seu filho da puta!” (WALCOTT, 1994, cap. III, i) [1]E em Viva o povo brasileiro, quando o nego Leléu, agora comerciante ilegal e agiota, falava consigo mesmo sobre a neguinha que havia arranjado em troca de favores (i)legais do tabelião e que havia sido devolvida, talvez grávida: "Deu um murro no tabuleiro, teve vontade de saber mais palavrões. E aquela estuporada da desgrama, que não lhe resolve nada, sabe pescar! Caraio!" (RIBEIRO, 1984, p.194)Caraio (corruptela de “caralho”), desgrama, estuporada, puta e bunda (por excesso de zelo do tradutor? Pois a tradução de arse mais apropriado é “cu”, nesse contexto). Impropérios, obscenidades e palavrões que merecem, neste trabalho, o devido destaque como força expressiva da linguagem mais cotidiana, de predominância do vernáculo oral, de personagens (em geral, subalternos) da literatura contemporânea.[1] No original: “Touchez-i, encore: N’ai fendre choux-ous-ou, salope!” / “Touch it again, and I’ll split your arse, you bitch!” (WALCOTT, 1998, cap. III, i). Note-se que esse trecho está em francês, ou melhor, no patois crioulizado advindo do francês falado em Santa Lúcia, a pequena ilha caribenha, país de origem de Derek Walcott e cenário principal de Omeros.ReferênciasRIBEIRO, João Ubaldo. Viva o povo brasileiro. 10. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.WALCOTT, Derek. Omeros. New York, Farrar, Straus and Giroux, 1998.WALCOTT, Derek. Omeros. Pref. e Trad. Paulo Vizioli. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.



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