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Qual o papel das tecnologias na ordem do discurso?
(Gabriel Nascimento dos Santos)

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No início do século XX o mundo conheceu, a partir do Objetivismo Abstrato, a teoria do suíço Ferdinand de Saussure. O pai da Linguística, ao fundar a ciência da Linguagem, propôs-se a fundar uma ciência baseada num sistema de equivalências em que a língua é tomada em sua estrutura e função como sistema abstrato de equivalências. Esse conjunto de teorias, que viria a ser chamado de Estruturalismo, é matéria de estudo pelo Círculo Linguístico de Praga (Escola de Praga ou Formalistas Russos) e recebeu fortes críticas pelos ditos pós-estruturalistas. Desde Bakhtin, que derruba o mito de que exista uma linguagem individual (pois toda forma de linguagem é fruto do social) ou que a língua seja regida por um sistema de regras da Gramática normativa, até os trabalhos de Foucault. Este, sendo um dos nomes mais importantes da Escola Pós-estruturalista, é motivo da exposição feita neste trabalho.
            Com o francês Michel Foucault, as teorias do Materialismo Histórico ganham outra dimensão dentro dos estudos da linguagem e da importância da análise desta como demonstração do real[1] Se a linguagem não representa o real, mas o demonstra, portanto ela não é fiel ao mesmo. Aí nascem os estudos da Ideologia por teóricos como Louis Althuser e do discurso de poder e do conceito de verdade por Michel Foucault.
            Ao perceber as tecnologias emergentes da Sociedade Global pode-se aludir às teorias foucaultianas, no que condiz ao conceito de verdade. A verdade é um construto, algo construído e selecionado pela sociedade-alvo. O que é verdade? E em que medida esta existe sem o poder? Qual são as bases que constituem o poder? Foucault analisa que as instituições determinam o que devemos dizer, pois não temos o direito de dizer tudo, ou dizer tudo em qualquer lugar. Nesse sentido, qual o papel do homem pós-moderno diante das tecnologias? O hipertexto, emergente da nova classificação textual dada ao texto cibernético, dá mesmo total liberdade ao internauta, como propõe Pierre Lévy? Ao se pronunciar como professor do Collége de France, discurso que viria a ser publicado em forma de livro intitulado A ordem do discurso, Foucault diz ser determinante a instituição para o que vai dizer. O ideal autor/autoridade, propriedade da cultura grega então é avistada no mundo ocidental com veemência nessa fala foucaultiana. Se não se pode falar o que se quer em qualquer lugar, como a internet pode ser um espaço de livre-arbítrio ilimitado?    
            Ao olhar criticamente para as tecnologias, e principalmente as que se propõem de massa, o homem pode ser analisado como ambivalente e de uma identidade híbrida. Isto porque no meio virtual pode-se observar o homem através do viés daquele que pode falar tudo, e fazer tudo. Até que ponto? A rede mundial de computadores viria então destruir a concepção clássica de autor/autoridade. O cânone literário sempre foi composto de autores que eram ao mesmo tempo autoridades: Carlos Drummond foi funcionário público, Machado de Assis foi funcionáiro público, Vinícius de Moraes e Guimarães Rosa foram diplomatas, etc. Os blogs, que podem ser publicados por qualquer pessoa , com mínimos conhecimentos técnicos. Até que ponto segundo a análise da Microfísica do poder foucaultiana, essa pode ser uma polifonia de verdades ditas na rede, sem o olhar das instituições? Ao olhar para qualquer um desses blogs, enquadrado dentro da tecnociência, percebe-se que eles partem de um alguém, que repete o discurso de uma instituição. Logo, ele não fala o que quer e na hora que quer. Ele repete discursos de uma instituição, seja científica, política, religiosa, escolar, etc.
            Dentro da tecnociência, pode-se perceber no avanço dessas tecnologias a apresentação de suportes ou estações de repetições ideológicas. Aí está o valor da linguagem impresso acima, que parte dos estudos da Escola Russa e da Análise do Discurso, seja a de viés foucaultiano, althusseriano ou de Pechêux. As tecnologias nascem ora para ajudar o homem nos modos de produção capitalista, ora para fazer dele consumidor e fadado a isso, ora como suporte em que o homem, inconscientemente pensa estar falando de “verdades” que vêm de si, quando está repetindo discursos das instituições que pertence.
            As “verdades”, dentro da Microfísica do poder, são  decididas pelas Instituições ou Sociedades do discurso. A indústria da verdade a distribui na infraestrutura (aquela mesma da metáfora marxista) e nesta a verdade é repetida, defendida, e por ela lutam, matam, discriminam e morrem. Os meios tecnológicos surgem como suporte para esse contexto da infraestrutura.  
            O meio virtual é contexto de repetição do discurso ideológico das instituições, que se materializa em forma de “verdade”. As práticas de saber são então movimentos pedagógicos tanto para discplinar o indivíduo para repetir a “verdade”, quanto para assujeitá-lo à posição de repetidor. Saber significa repetir tal “discurso”, e saber repeti-lo aos modos do consumo ideológico, significa repetir o discurso do poder. A moda, a beleza, a religião, as práticas “rituais” em sua totalidade são práticas do saber.             Assim, os meios tecnocientíficos dão suportabilidade para a distribuição das “verdades” institucionais dentro do âmbito da microfísica do poder, e da “ritualização” saber, como uma prática constante e quase ininterrupta de

[1] Com a Análise do Discurso de Linha Francesa, a linguagem deixa de ser vista pelo viés estruturalista de representação do real e passa a ser analisada como demonstração do real.



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