As mães de Chico Xavier - Critica
(Marco Tomazzoni)
O cinema espírita, conquistou seu lugar no cinema brasileiro. O sucesso de "Bezerra de Menezes", "Chico Xavier" e "Nosso Lar" provou o gosto do público e abriu caminho para uma série de novas produções do gênero. "As Mães de Chico Xavier", é o exemplar mais recente dessa safra. Assim como os demais, o filme demonstra uma tendência: todos são acríticos.
A transposição para o cinema dessas obras segue a linha das obras psicografadas pelo próprio Chico Xavier, best-sellers no campo de autoajuda e esoterismo. A questão, para eles, não é de estilo ou artística, mas filosófica ou até doutrinária, narrando parábolas e receitando pílulas para uma vida melhor. Não faria o menor sentido criticá-los por um viés teórico, nem os autores pretendem ser encarados como artistas. Até hoje, os filmes "transcendentais" parecem compartilhar essa mesma ambição e se limitam a transmitir uma mensagem. "As Mães de Chico Xavier" vai pelo mesmo caminho.
O roteiro partiu do livro "Por Trás do Véu de Ísis", escrito por Marcel Souto Maior, só que, em vez de focar as investigações jornalísticas sobre o fenômeno da mediunidade, olha especificamente para as mulheres que buscam a ajuda de Chico, mais uma vez interpretado com semelhança assombrosa por Nelson Xavier (o ator protagonizou também “Chico Xavier).
Isso não quer dizer que o jornalismo tenha sido varrido para fora da trama. Caio Blat interpreta o repórter de TV Karl, que vai a Uberaba acompanhar de perto o trabalho daquele cara que escreve "cartas do além". Há, inclusive, uma crítica nada sutil ao trabalho da imprensa, já que o editor de Karl na emissora (Herson Capri) dá carta branca para que ele não manipule as informações e faça uma reportagem fiel aos fatos. "É uma oportunidade rara de explorar a verdade no jornalismo, aproveite", diz, entre risos.
A história demora um pouco a engrenar por causa da apresentação dos personagens, todos encadeados, com relações entre si, mesmo que distantes. Capri e a mulher, interpretada por Via Negromonte, sofrem com o vício do filho em drogas e depois com seu suicídio. Vanessa Gerbelli entra em desespero após a morte do filho único, ainda criança. Tainá Muller fica grávida do namorado, que vai viajar para a Europa sem levá-la, e pensa em aborto.
Os dramas dessas mulheres vão conduzindo o filme e a figura de Chico adentra aos poucos, a princípio pela postura inquisidora do jornalista, que entrevista mães na Casa da Prece – há até a inclusão de um depoimento real, conduzido de forma espontânea por Caio Blat, e que exatamente por isso destoa dos demais.
Realidade não é o forte do longa, dirigido por Halder Gomes e Glauber Filho. A estrutura dramática é frágil, em contraponto ao exagero das situações e de uma tendência para o brega – fundir as imagens de um pincel na água com o céu azul não é um sinal de muito bom gosto, da mesma forma que a trilha sonora de Flávio Venturini, equivocada, por vezes irrita. Mas quando Chico Xavier entra em cena e prega que "a saudade é uma dor que fere nos dois mundos". A discussão muda de prisma e os argumentos caem por terra.
O objetivo do filme, é levar, nas palavras do produtor Luís Eduardo Girão, uma "mensagem do bem" à população, demover ideias do uso de drogas, suicídio e aborto. Disso, não há o que dizer e "As Mães..." provavelmente atinge seu objetivo. O cinema espírita tem cumprido sua função social, mas tem potencial para levar sua mensagem mais longe, unindo seus ideais com a linguagem cinematográfica de forma mais ousada ou, ao menos, melhor acabada.
Pelos resultados das bilheterias até agora, as plateias não parecem muito preocupadas com isso – a identificação, no final das contas, se concretiza. Mas a fila de projetos é grande e a janela no circuito exibidor, escancarada. Não há por que não experimentar. Quando isso acontecer, aí sim o debate vai poder ser feito em duas frentes. Do jeito que as coisas estão, o cinema espírita e "As Mães de Chico Xavier" permanecem assim, acríticos.
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