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Cisne Negro
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Cisne Negro (Black Swan) parece filme de autor. Por isso mesmo, também parece injustiça os vários prêmios da academia e afins terem celebrado atrizes e diretor, e não os roteiristas. Um deles, Andrés Heinz, é o autor da história que inspirou o suspense de uma hora e 43 minutos levado aos telões em 2010, e exibido no Brasil neste primeiro semestre de 2011. Por que atribuo tanta importância aos dois roteiristas, Mark Heyman é o outro, e não ao diretor? Porque a direção e a fotografia tratam mais da imagem e do tempo cronológico, enquanto o roteiro é a sua negação e fala ao inconsciente de cada um.
 


Isto, embora a imagem também grite no corpo da protagonista Nina, quando expõe sua anorexia nervosa, com alguns episódios de bulimia, e muitos, quase o tempo todo, de ilusões, alucinações e delírios. As imagens tentam alcançar o conteúdo, mas, percebe-se, passa-se outra história nas profundezas de Nina, lá onde se esconde o Cisne Negro. Para trazê-lo à tona, é preciso matar o Cisne Branco.
 


Nina é tão doce, tão querida, tão certinha, boazinha... só assim pode aceitar o eterno embalo nos braços de uma mãe que não a vê   - pensa embalar-se a si mesma e é causa de uma falha narcísica na filha, o que talvez explique seus transtornos alimentares: a introjeção do objeto-mãe idealizado, mas que ao mesmo tempo é um objeto persecutório. Uma mãe que ao anúncio da primeira e única gravidez frustra os planos da carreira, tornando-se ex-bailarina. Nessa história, não há lugar para o pai, que deveria interditar a voracidade materna sobre a filha, com a qual não cria vínculo, pois ambas são narcísicas; Nina se espelha narcisicamente; gera uma relação homossexual.

 
E assim, a filha não deixa de ser apêndice: é investida pelo desejo da mãe de continuar o que não pode realizar. Neste caso, a mãe não é uma incentivadora da carreira, mas uma opressora, um objeto persecutório. Por que Nina submete-se a isso, enquanto poderia ter dito não? Ou... será que poderia mesmo ter dito não? Até ensaia algumas vezes, mas... Não disse não talvez por sentir-se culpada de ter interrompido a carreira da mãe; por um sentimento de rejeição, por ser um quase aborto. Os sintomas da neurose obsessiva compulsiva se revelam na busca da perfeição, mas não movida pelo desejo, e sim pela sua necessidade guiada por uma demanda da mãe. Neste caso, Nina não se envolve com o imperfeito que pode frustrar, ou seja, os relacionamentos afetivos. Quando o desejo entra em cena, e portanto o sujeito passa a depender do desejo do objeto, que pode frustrá-lo, ocorre o surto de Nina.         

 
Muitas hipóteses e poucas certezas. Nina é um caso de histeria grave ou de transtorno obsessivo compulsivo grave, e de qualquer forma um ou outro culminam em surtos psicóticos? Será uma esquizofrênica paranóide, tendo na mãe perversa a principal perseguidora   - multiplicada alucinada e delirantemente nas várias personagens do convívio de Nina? Ou mesmo as partes de Nina reveladas em cada personagem, inclusive sua mãe interiorizada, a mãe sentida e narrada pelo inconsciente de Nina.  A mãe ostenta o tempo todo os olhos de Cisne Negro, como se fosse a rival destrutiva de Nina em relação ao pai (que não interdita a tirania da mãe sobre a filha nem é modelo masculino à filha) e a todos os homens.   

Nina, à beira dos 30 anos, é uma bailarina em fim de carreira  - eu, inconscientemente, fundi Nina e Beth, a bailarina aposentada de fato; por isso, Beth não é referida neste texto. Fui notar isso depois que assisti pela segunda vez ao filme, e já havia escrito a primeira versão deste texto. Para mim, Cisne Negro é atormentador, parece uma alucinação com início, meio e fim dissociados. 

Talentosa, Nina é testada para protagonizar os cisnes branco e negro no balé O Lago dos Cisnes. É perfeita como cisne branco, papel aliás que desempenha diariamente em relação à mãe. O choque vem quando o professor do balé a seduz e a rejeita, erotiza o vínculo, traz à tona e ao mesmo tempo interdita o desejo, como se dela fosse um pai (perverso?). Nasce, então, o Cisne Negro. Ante este desconhecido vínculo destrutivo (o cisne branco é indiferente, não faz vínculo), porque introduz o desejo, frustração e desamparo ao mesmo tempo, Nina entra em franca psicose (paranóia), que tem como pano de fundo a dupla rejeição mãe-pai, como num pacto entre os dois, em que ela, que seria terceira, é excluída, não forma o triângulo Edípico  - desamparo.

 
Quase contando três décadas, Nina tem corpo de menina e brinquedos na estante. Seu vazio anoréxico, de não poder ser nem existir, apenas estar a reboque das demandas de outro (a mãe) é invadido pelo vazio da mãe, a grande credora. Os supostos episódios de bulimia em Nina, expressos pelo vômito, podem ser apenas rejeição explícita a certas situações; o que prevalece é a anorexia. A filha, por sua vez, no papel de grande devedora de uma dívida impagável, tem muita raiva, sentimento culturalmente proibido contra os genitores e cuidadores primários e que leva à culpa inconsciente. Assim, a raiva inconsciente não atinge o objeto (mãe), e sim o sujeito (filha), como se vê na autodestruição de Nina.  



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