O suicídio da Universidade
(Monclar Valverde)
Monclar Valverde é músico, mas sua fala vem de seu lugar como Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. É também Doutor em Filosofia (UFRJ, 1995), com pós-doutorado em Teoria da Comunicação (Paris V, 2001). No artigo “O suicídio da universidade” (julho de 2009; link abaixo), é o acadêmico experiente que mostra seu descontentamento com os rumos da academia brasileira, baseada em critérios de produtividade e gerenciamento pautados por agências de financiamento federais, especialmente a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior), a qual Monclar chega a chamar de “FMI do mundo acadêmico”, com interferência direta nas linhas de pesquisa, nas disciplinas e na administração das universidades.Esse contexto cria um clima de “gincana”, com todos correndo para publicar mais e realizar mais eventos, com o mérito em último lugar. Tudo por conta da necessidade de obtenção e manutenção de bolsas. Monclar Valverde também critica os vícios sectários dos "grupos de pesquisa", cujos conteúdos são questionáveis, principalmente nas áreas de artes, letras e ciências humanas, em que impera, segundo ele, o “delírio intelectual”.O preenchimento de formulários e relatórios inócuos é outra prática criticada pelo autor do artigo. Os Programas de Pós-Graduação se tornam as principais vítimas dessa rotina burocrática e produtivista imposta pela CAPES. Monclar também faz uma análise política da situação, ao afirmar que, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, o tripé ensino-pesquisa-extensão privilegiou a aristocracia da "pesquisa", enquanto o governo Lula de ênfase à extensão. Nos dois casos, o ensino ficou como o patinho feio ou, nas palavras do autor, “um primo pobre”.O artigo termina com a constatação de que os agentes da CAPES são professores advindos da chamada "comunidade universitária". Esses agentes acabam se adaptando aos procedimentos tecnicistas e burocráticos da estrutura, o que pode levar a uma situação apocalíptica em relação ao poder criativo da academia. Vale a pena transcrever o último parágrafo do artigo: “Por isso, quando a Universidade chegar ao esgotamento total de sua força criativa, quando perder de vez seu melhor material humano, quando transformar-se completamente numa fábrica de tabelas e relatórios e, de fato, ‘morrer’, teremos que admitir que isto não aconteceu por obra de forças hostis ou devido a causas naturais, mas por suicídio premeditado”.
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