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O Caos e a Natureza no Lirismo do Poeta Paulo Plinio Abreu
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Por Walquiria Sampaio Gouveia

Mendes in ‘Poesia” (2008, prefácio, p.25) afirma que “cada qual se aproxime dos textos desses poemas com toda a liberdade e disponibilidade, com toda capacidade criadora, livre para a “sua leitura” que resultará na criação de um novo texto, “o texto do leitor”, como, hoje, se compreende a leitura de uma obra.” Nesse entendimento é que  consideramos que este artigo se respalda, dentre as  multi-interpretações que se pode depreender da poética  pliniana.
Paulo Plínio Abreu (1921-1959) apresenta, na sua poética, a natureza envolvida em caos. Caos aqui, não no sentido de desordem mas, como um momento de consciência do homem e sua relação com o Cosmos. A noite pliniana representa um momento de trevas, que vem com o sono para os seres. E o sono recupera a existência para o outro dia. Então, depreende-se que essa noite, análoga ao Caos, é o princípio de recuperação para uma nova ordem, como o é a “passagem do Caos para o Cosmo” nas descrições dos mitos cosmogônicos das culturas antigas. Assim é que o pensamento de Mircea Eliade (1992) explica a constância da renovação através do Caos para uma nova recriação. É neste sentido, que Paulo Plinio nos faz entender que o universo, o homem e a natureza fazem parte de uma unidade, porém o homem tem se desviado deste princípio.
O poeta então supervaloriza os elementos da natureza, reatualizando-os como imagens personificadas com vários atributos míticos: de angústia, de dor, de desejo, de prazer, e de morte etc., por entender que o homem não é só racionalidade ou corporeidade, mas também afetividade e liberdade, entendimento que o poeta desvela como um momento de consciência interior  dos seres, a fim de  reacender uma reflexão no homem em sua relação com o cosmos.  
 O filósofo Bachelard (1988, p. 195) diz que “para uma poética do devaneio, na imagem da água, não se deve ler somente suas proezas reais, que serão finitas, porém, deve-se lê-las participando da poética da proeza sensitiva”.  Lê-se, nas águas plinianas que elas são imaginativas, que formam imagens profundas, espessas, íntimas, que carregam, em si, o peso da vida e da morte. São águas de melancólico lema, na proporção em que se considera o passado da idade do poeta, que foi breve, nos seus 38 anos de vida, mas que se incorporou de sonhos e realizações,  conforme reitera a enunciação in “Poesia” (2008, p.65):
 
O poeta celebrou seu nascimento com palavras inúteis
Guardou nas malas de viagem as suas estrelas de brinquedo
E olhando as mãos inchadas de alegria sentiu que o mar se avizinhava
A voz vinha cantando do mar e ele sentiu-se velho como os tempos e
Saudou o mundo.
O poeta escreveu nas mesas da escola símbolos estranhos e entregou a sua
Mensagem as gerações futuras.

A mensagem está nos versos amadurecidos pelas (mãos do poeta) que deixa seu aprendizado (às gerações futuras). Quem quiser conhecer seus (brinquedos e seus símbolos estranhos), basta abrir (suas malas de viagem) ou melhor, sua arte poética. Foi pena! Que ele ouviu a voz do mar (morte) que se avizinhou dele muito cedo e o forçou (saudar o mundo).
A imagem das águas plinianas, apresenta-se como matéria de morte bela e fiel ao poeta. Elas refletem seu belo rosto sonhador, sua psiquê narcisista, daquele que ama as próprias entranhas líquidas e por elas sente-se atraído e, convencido de que nos convencerá de que nelas (águas) está o nosso destino, tanto na vida quanto na morte, conforme se apreende desse outro poema 47 in "Poesia" (2008):
 
Ela virá dos mares
Sentiremos o mistério dessa atração irresistível.
Sentiremos o frio em que desabrochará essa flor  maravilhosa
Que perdida no inverno era o destino informe e desconhecido.
Ela virá dos mares como as perdidas aventuras
E será o convite fatal.

 O passaporte para adentrar no reino das funestras águas é a não-resistência à atração da deusa cheirosa (flor maravilhosa). Os mortais, não dispomos de poderes para disputar com essa ninfa, mesmo por que ela nos envolve e nos entorpece sinestesicamente em seus seios frios, nos intuindo às aventuras que perdemos ou que nunca vivemos, quem irá resistir a tão excitante convite?  Porém essa “flor maravilhosa” esconde na manga sua idade, pois ela existe desde os primórdios invernais da cosmologia primitivas e, por isso ela tem a idade do mundo, e vem fazendo o mesmo “convite fatal” a todos os seres no espaço e no tempo no mito do “Eterno retorno” justificando-se sempre com um motivo.
A leitura de Mircea Eliade (1992, p.57) remete a um entendimento de que tudo na vida se renova, transforma-se através do tempo cíclico na natureza. O autor referencia que o homem “primitivo” se libertava de seus de seus complexos e, de suas cobranças existenciais, por ocasião de um cerimonial que, além do significado  da “purificação” que é simbolizada em uma “morte” para os emblemas e mazelas, ele acreditava em “ um novo nascimento” Por isso a morte não aterroriza o eu lírico pliniano, ela traz no “Eterno Retorno” o peso do existir.

ABREU, Paulo Plínio. Poesia. 2º. Ed. Belém: EDUFPA, 2008.
BACHELARD, Gaston, 1884-1962. A poética do devaneio. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
BACHELARD, Gaston. A água é os sonhos: Ensaio sobre a imaginação da matéria. São Paulo:Martins Fontes, 1997.
ELIADE, Mircea. Mito do eterno retorno. Trad. Jose Antonio Chescin. São Paulo: Mercuryo, 1992.
 



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