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O Cão Preto
(Contos Indianos)

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Shakra, rei dos deuses, ergueu-se do seu trono dourado e observou as belezas da Terra com atenção. Embora tudo fosse belo, Shakra sentiu uma certa apreensão.
Expandindo seus sentidos sentiu o calor da guerra. Ouviu o choro das crianças e vozes a gritarem raivosas. Ouviu o lamento dos esfomeados e dos solitários. Lágrimas rolaram-lhe pela face e caíram sobre a terra como aguaceiros.
— É preciso fazer algo! — disse Shakra.
Transformou-se num homem e levando consigo um grande arco em osso, desceu à Terra. A seu lado caminhava um grande cão preto. O pelo do cão era emaranhado, os olhos brilhavam incandescentes, os dentes pareciam presas e a língua pendente era da cor do sangue.
Após algum tempo de caminhada chegaram a uma cidade esplêndida.
— Quem és tu, forasteiro? — perguntou um soldado, do alto das muralhas da cidade.
— Sou estrangeiro nestas paragens e este — disse, apontando o animal — é o meu cão.
O cão preto abriu as mandíbulas. O soldado ficou aterrado. Sentiu como se estivesse a olhar para um enorme caldeirão de fogo e de sangue.
— Fechem os portões imediatamente! — ordenou o soldado.
Mas Shakra e o cão saltaram os portões cerrados. Os habitantes da cidade fugiram em todas as direções. O cão partiu no seu encalço, juntando as pessoas como se fossem um rebanho de ovelhas. Homens, mulheres e crianças gritavam, aterrorizados.
— Parem! — gritou Shakra. — Não se mexam!
As pessoas imobilizaram-se.
— O meu cão tem fome e tem de ser alimentado.
O rei da cidade, tremendo de medo, ordenou:
— Rápido! Tragam comida para o cão!
Em breve, carroças chegaram carregadas de carne, pão, milho, frutos e cereais. O cão engoliu tudo de uma só vez.
— Meu cão precisa de mais comida! — exclamou Shakra.
As carroças voltaram de novo, carregadas. E o cão voltou a devorar tudo. Depois soltou um grito angustiado, um grito que parecia emanar das profundezas do Inferno.
As pessoas caíram por terra e taparam os ouvidos, aterradas. Shakra fez soar a corda do seu arco o que causou um som semelhante ao ribombar de trovões numa noite de tempestade.
— O meu cão ainda tem fome!
O rei contorcendo as mãos, pôs-se a chorar:
— Já lhe demos tudo o que tínhamos. Não temos mais!
— Sendo assim, o meu cão se alimentará de pastos e montanhas, de pássaros e animais ferozes. Devorará as rochas e mastigará o sol e a lua. O meu cão alimentar-se-á de vós!
— Não! — gritaram as pessoas. — Tem misericórdia de nós! Rogamos-te que nos poupes! Poupa o nosso mundo!
— Então acabem com a guerra — disse Shakra. Alimentem os pobres. Cuidem dos doentes, dos órfãos e dos velhos. Ensinem a bondade e a coragem às vossas crianças. Respeitem a terra e todas as suas criaturas. Só assim acalmarei o meu cão.
Shakra, então, transformou-se num gigante, resplandescente de luz. Ele e o cão deram um salto e, numa espiral de fumo, subiram cada vez mais alto.
Nas ruas da cidade, homens e mulheres olhavam o céu consternados. Estenderam as mãos uns para os outros e prometeram mudar as suas vidas, fazendo o que o forasteiro lhes tinha ordenado.
Lá de cima, Shakra limpou a testa e sorriu ao olhar para a terra. Milhares de estrelas cintilavam, fulgentes, e a escuridão dormitava entre elas, tal como um cão junto de uma fogueira.



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