A Dama Pé-de-Cabra
(Lendas Portuguesas)
Um nobre senhor da Biscaia de nome D. Diogo, caçava em densa floresta, quando foi surpreendido por uma linda mulher que cantava. Apaixonado instantaneamente ofereceu-lhe seu coração, suas terras e todas as suas riquezas se com ele se casasse. A dama aceitou, mas impôs como única condição a de que ele nunca mais se benzesse. Mais tarde, no seu castelo, o homem percebeu que a formosa dama tinha um pé forcado como o de uma cabra, mas não deu atenção a defeito tão pequeno em tamanha perfeição. Viveram muitos anos felizes e tiveram dois filhos.
Um dia, depois de uma boa caçada, D. Diogo premiou o seu cão com um grande osso, mas a cadela preta, propriedade de sua mulher, matou o animal para se apoderar do premio. Surpreendido com tal violência, o homem benzeu-se. A Dama Pé de Cabra deu um grito e começou a elevar-se no ar, com a sua filha, saindo ambas por uma janela para nunca mais serem vistas. Nesse dia foi confessar e o padre lhe disse que estava excomungado e sua penitencia seria guerrear os mouros por tantos anos quantos vivera em pecado. Sem saber como resgatar o pai, seu filho resolveu procurar pela mãe que se tornara uma alma penada.
A Dama decidiu ajudar o filho, dando-lhe um cavalo selvagem, que o transportou até onde se encontrava seu pai. Lá chegando, o cavalo abriu a porta da cela com um coice e pai e filho cavalgaram em fuga, mas, no caminho, encontraram um cruzeiro de pedra que fez o animal estacar. A voz da Dama Pé de Cabra instruiu o animal para evitar a cruz. Ao ouvir aquela voz, depois de tantos anos e sem saber da aliança do filho com a mãe, D. Diogo benzeu-se, o que fez com que fossem cuspidos da cela, a terra tremesse e abrisse, deixando ver o fogo do Inferno, que engoliu o animal. Com o susto, pai e filho desmaiaram. D. Diogo, nos poucos anos que ainda viveu, ia todos os dias à missa e todas as semanas se confessava. Seu filho nunca mais entrou numa igreja e crê-se que tinha um pacto com o Diabo, pois, a partir de então, nunca mais perdeu uma batalha.
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