BUSCA

Links Patrocinados



Buscar por Título
   A | B | C | D | E | F | G | H | I | J | K | L | M | N | O | P | Q | R | S | T | U | V | W | X | Y | Z


Cidade de Deus
()

Publicidade
Cidade de Deus

Fernando Meirelles



Reafirmando a
tendência do cinema brasileiro dos últimos anos Fernando Meirelles também lança
seu olhar ao espaço marginal confirmando o desejo redimensionar o ambiente
marginal brasileiro como o novo espaço a ser tratado. Sua explosão estética nos
mostra a favela como um parque de diversões às avessas onde seus sons e imagens
nos levam ao caos, tudo isso dentro de uma estética de planos e cortes
hipercalculados.

Se em O Invasor o
olhar é assumidamente ex-ótico pois a realidade da bandidagem não é a realidade
dos realizadores, em Cidade de Deus isso parece não acontecer, o olhar se
parece com o olhar de classe média alta que pretende dimensionar o espaço da
favela segundo seus valores estéticos, sem assumir claramente que aquele
ambiemte está sendo dimensionado por um olhar ex-ótico.

Também podemos
observar esse mesmo olhar no filme anterior de Meirelles, Domésticas. Com um
jogo de cortes muito semelhante com Cidade de Deus, Meirelles também lança seu
olhar publicitário sobre o universo das empregadas domésticas, numa tentativa
de mapear e compreender suas aflições, felicidades e realidade na qual vivem.

Olhar que agrada
bastante ao público de cinema, em geral uma classe média que anseia por
observar o caos social no qual o mundo se encontra pois acredita não fazer
parte dele ou ao menos acredita não ser parte do problema dele.

Encontram alento e
conforto em filmes como Cidade de Deus, que dão e reiteram seu poder de
realização cinematográfica e seu poder de “consciência” sobre o que acontece no
mundo.

Buscapé é a figura
do menino que nasceu e cresceu na favela e graças ao seu trabalho e talento não
se deixou engolir pela violência e tráfico de drogas. Vemos aí o conceito de
destino inexorável incutido na ideologia da construção do personagem, afinal
por que Buscapé não virou bandido também? Se Buscapé e seu irmão mais velho
nasceram e foram criados no mesmo ambiente sob dos ensinamentos do mesmo pai
honesto e trabalhador, por que um virou malandro e o outro não? Por que apenas
seu irmão virou bandido?

Em alguns momentos
do filme Buscapé justifica essa sua opção dizendo que nunca teve coragem de
seguir seu irmão, diferentemente de Bené; em outro momento ao Buscapé falar
sobre sua vida o lettering indica “vida de otário” talvez porque Buscapé não
nasceu destinado a bandidagem, ele não tem o traquejo do malandro, ele é
ingênuo apesar de viver no meio.

Mas Buscapé não é
de todo imaculado, em alguns momentos ele parece ser um pouco Macunaíma, sabe
dos perigos que o cerca, ele sabe se sair de situações mas ele não se projeta
nas situações de risco, prefere recuar e fazer a fotografia (e algumas vezes o
poder de saber fotografar salva sua vida) Quando Buscapé é chamado para tirar
foto do Zé Pequeno e seu bando vemos uns dos poucos momentos em que Buscapé se
solta diante dos bandidos, indicando qual seria a melhor pose para a
fotografia, qual enquadramento etc…, o que se apresenta como um grande poder,
mesmo porque é dessa maneira que Buscapé alcançará o poder maior quando decidirá
qual das fotos serão divulgadas na imprensa. Claro que nosso Macunaíma escolhe
a foto menos comprometedora.

É nesse personagem
que encontramos nosso maior objeto de identificação, o menino pobre, negro,
nascido e criado no meio da bandidagem mas honesto e que graças ao seu dom
natural e força de vontade pôde com muito esforço encontrar o atalho para o
mundo civilizado da classe média, curiosamente para o mundo do jornalismo onde
irá ser, finalmente, Wilsom e não mais Buscapé.

Vemos aí que o que poderia e deveria ser um
cruzamento eficaz entre duas realidades acaba se transformando num alargamento
do abismo dando à classe média o conforto de saber que o caminho para o bem e
para vida honesta existe, até para aqueles que não tiveram a tal “oportunidade
na vida”, e esse é o único e bom caminho para “aquela gente” é encontrar seu
atalho em direção ao modo de vida civilizado: fazer a “escolha certa”, como a
jornalista diz ao tentar convencer Buscapé a trazer mais fotos da favela apesar
dele estar colocando em risco sua própria vida.

Assim como Buscapé
Meirelles também parece recuar e fazer a fotografia ao invés de se projetar no
perigo e assumir o controle. O diretor não parece se deixar levar pela energia
do ambiente e ser dominado dentro dele, as interpretações são tão realistas,
suas ações são tão calculadas que não sobra nenhum espaço para o improvável.

Buscapé é de
dentro da favela, seu olhar é interno (ou deveria ser) mas suas fotos não se
diferem muito das fotos de fotógrafos considerados na imprensa pois em um
determinado momento na redação do jornal os jornalistas se admiram com a
qualidade da foto do menino, assim como Meirelles ele fotografa com o olhar de
quem já sabe qual é a cura para aquele mal.

Desse modo parece
que Meirelles se torna incapaz de se debruçar sobre aquela geografia bem como
de deixar que ela se debruce sobre nós.



Resumos Relacionados


- Cidade De Deus

- Www.buscape.com.br

- Www.buscape.com.br

- Www.buscape.com.br

- Cidade De Deus



Passei.com.br | Biografias

FACEBOOK


PUBLICIDADE




encyclopedia