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Os gêneros do discurso: tipos relativamente estáveis de enunciados
(RODRIGUES; R. H.)

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RODRIGUES, R. H. Os gêneros do discurso na perspectiva dialógica da linguagem: a
abordagem de Bakhtin. In: MEURER, J. L.; BONINI, A.; MOTTA-ROTH, D. (orgs) Gêneros: teorias, métodos, debates. p. 153-183 Quanto à questão dos
gêneros discursivos, Rodrigues começa o súbtópico falando das diversas
pesquisas a respeito da noção de gênero realizada pelos autores pertencentes ao
Círculo e dando uma brevíssima idéia das diferentes abordagens dadas por eles a
idéia de gêneros. Entre as abordagens
citadas pela autora temos, por exemplo, as questões artístico-literárias, que
excluíam, portanto, totalmente os gêneros do cotidiano social.

Rodrigues ressalta que
Bakhtin define com gênero de discurso “tipos relativamente estáveis de
enunciados ou formas relativamente estáveis e normativas do enunciado”,
estabelecendo assim a relação dialética, único em si e ao mesmo tempo
dependente de outros enunciados.

Rodrigues ressalta que, ao
lermos a definição dada por Bakhtin, é importante não focarmos nossa atenção em
“tipos”, ou “formas”. É equivocado, e até mesmo contrário a toda a teoria
bakhtiniana, pensar nos gêneros como fórmulas modulares que apresentam poucas
variações dentro de uma limitada possibilidade de usos.

Muito pelo contrário, a
idéia de “tipos” usada por Bakhtin é a de “tipificação social” dos enunciados,
ou seja, uma proximidade de características semelhantes ou comuns, constituídas
não por regras do sistema, mas por situações sócio-históricas dentro das
esferas de interação humana. A autora ressalta ainda que existe uma negação
explicita e direta nos textos do Círculo de que os gêneros constituam-se como
formas, ainda que, em determinados gêneros, a composição mais formal seja parte
de seus elementos composicionais.

A
ênfase da definição de gêneros do discurso está, então, nas esferas de interação
social e no uso da língua exigido, e historicamente estabelecido, dentro de
tais contextos situacionais. A autora explica que cada esfera sócio-ideológica
em particular, como, por exemplo, a artística, educacional, política,
religiosa, etc, estabelece e fixa as relações sociais necessárias para a
interação e efetivação da comunicação por meio da repetição de hábitos e
circunstâncias.

Embora dê alguns exemplos
das esferas de interação social e alguns gêneros vinculados a tais esferas, a
autora faz a importante ressalva ao lembrar que as possibilidades de atividade
humana são inesgotáveis e impossíveis de serem esquematizadas e classificadas
em sua totalidade.

A relação entre gêneros de
discurso e as esferas sociais às quais eles pertencem é tanta que a todo o
momento, novos gêneros surgem e se fixam para dar vazão a novas interações
sociais como, por exemplo, o email e os outros gêneros digitais surgidos com o
advento da internet.

Não só o surgimento de
novos gêneros, as interações sociais também determinam a mudança de gêneros já
existentes, dependendo sempre das necessidades comunicativas dos interlocutores
nas dadas situações. Os gêneros não são “produtos finais” da interação social,
mas sim fazem parte dela e realizam.

Retomando a idéia de “tipos
relativamente estáveis”, os autores do Círculo enfatizam sua dupla ação: a de
“reguladora” da construção e interpretação dos enunciados realizados em dada
situação, e de “renovadora” da interação, uma vez que cada enunciado, único e
individual, contribui para a perpetuação ou não dos gêneros já estabelecidos.

A ação “reguladora” dos
gêneros organiza a interação, pois ao anteceder o próprio processo discursivo,
os gêneros balizam a construção da interação dentro daquela esfera social,
dando uma série de expectativas possíveis ao interlocutor e auxiliando o autor
a preenchê-las.

Com isso, fica claro que a
construção do enunciado não pode ser considerada uma combinação livre e
arbitrária, dependente única e exclusivamente das vontades e intenções do
falante, mas sim, além do domino das formas lingüísticas, é necessário também o
domínio dos gêneros necessários a cada uma das esferas sociais.

Assim, diante de tudo isso,
Rodrigues afirma que os autores do Círculo apontam três características
indissociáveis da constituição dos gêneros: “tema (referido a objetos) e sentidos (outros enunciados); estilo verbal (seleção de recursos
léxicos, fraseológicos e gramaticais da língua); e construção composicional (procedimentos composicionais para a
organização, disposição e acabamento da totalidade discursiva e da relação dos
participantes da comunicação discursiva)” (Rodrigues, ANO, 167).

Em relação ao tema, cada
gênero tem um conteúdo temático já pré-definido, pois busca atender às
necessidades de uma esfera específica. A composição trata da organização
textual, ainda que esta seja a característica mais diversificada heterogênea de
ser definida, uma vez que corresponde a diversidade e heterogeneidade das
próprias esferas de atividade às quais os gêneros vêm atender. O estilo
corresponde ao uso mais específico dos recursos da língua. Cada gênero pode
apresentar um estilo mais livre ou mais formal, dependendo sempre do uso social
a que se destina e a situação comunicativa da esfera de atividade social que
tal gênero vem preencher.

Por
fim, autora introduz a idéia de gêneros primeiros e secundários, tidos como
“simples” ou “complexos”. Os primários constituem-se na comunicação imediata,
dentro da esfera do cotidiano, como a conversa, o bilhete, a carta, o diário
íntimo; enquanto os secundários surgem de situações mais formalizadas e
especializadas buscando preencher esferas mais especificas como a artística,
acadêmica, religiosa, que exigem uma elaboração mais cuidadosa dos gêneros,
como é o caso dos romances, teses, encíclicas, etc.

Bakhtin salienta ainda que
muitos gêneros secundários apresentam em seu desenvolvimento a inclusão de gêneros
primários, como o romance que engloba o diálogo e também outras tantas práticas
sociais comunicativas. Outros nascem do hibridismo entre gêneros, tanto
primários quanto secundários ou ainda da intercalação de gêneros.

Todas essas possibilidades
provam que o foco da definição de “tipos relativamente estáveis” não pode estar
em “tipos”, mas recair em “relativamente”, uma vez que tudo depende de uma
série de fatores.

Após a Fundamentação
Teórica, Rodrigues apresenta uma detalhada exemplificação dos conceitos
definidos, utilizando-se do gênero artigo pertencente à esfera jornalística.
Contudo, apesar de bastante esclarecedora, não é viável remeter aqui a todos os
exemplos por ela citados.



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