A TRANSFORMAÇÃO DO LIXO EM RIQUEZA
(Marcelo Sperandio / Coordenação: Mario Sabino - Veja - 02/11/2011)
A transformação do lixo em riqueza
O Brasil caminha a passos largos para, finalmente, se livrar de um
problema medieval: a falta de coleta de lixo. Em 2000, 79% dos domicílios
contavam com esse serviço. Hoje, o índice chega a 87% - e continua subindo. A
melhora não se deve à bondade dos políticos, mas ao senso de oportunidade
deles. A licitação da coleta é um terreno fértil para a corrupção. A
fiscalização dos contratos é complexa e os valores envolvidos nos pagamentos,
milionários. Quanto mais uma administração amplia o serviço, mais negócios
lucrativos ela pode fechar. Apesar disso, a maioria das cidades ainda tem um
sistema manco. Os sacos são retirados da porta das casas e atirados em lixões a
céu aberto. Poucos reciclam resíduos secos ou usam aterros para confinar o lixo
orgânico.
Há exceções. Santo André, no ABC paulista, é um exemplo de gestão nesse setor.
As 1 000 toneladas diárias de lixo que a cidade produz são coletadas por 31
caminhões - onze deles só para recicláveis. Os veículos são monitorados por
GPS, para que nenhuma casa fique fora da varredura. Isso garante 100% de coleta
- sempre seletiva, sempre porta a porta, um fato raro no país. Para atingir
esse patamar, Santo André teve de reciclar, em primeiro lugar, seu modelo de
tratamento de resíduos. Em 2000, ligações telefônicas automáticas informavam
aos moradores o dia e a hora em que cada tipo de lixo seria recolhido. A
população aderiu e passou a separar materiais. Hoje, duas cooperativas
selecionam 15% dos resíduos secos e os vendem para reciclagem. Até o ano que
vem, a meta é chegar a 30%. O aterro para onde segue o lixo orgânico também é
eficiente: tudo o que chega é enterrado. Dois piscinões contêm o chorume, o
líquido escuro produzido pela decomposição desse tipo de sujeira, e grandes
escapamentos foram instalados para evitar que o gás metano - também resultado
da decomposição - se acumule embaixo da terra. Com isso, o impacto ambiental é
controlado. O plano, agora, é produzir etanol a partir da esterilização do
lixo.
Na Amazônia, a situação se inverte. Santarém, no Pará, tem o pior índice de
coleta entre as 106 cidades analisadas: só 75% das casas têm o lixo recolhido -
o restante fica pelas ruas ou é queimado em quintais. O serviço municipal é
feito por sete caminhões e quarenta carroças, movidas a tração animal. Tudo é
despejado em um lixão, onde toneladas de resíduos se acumulam. Só uma pequena
parte é aterrada. Lá, catadores e urubus competem pelo sustento. "Lata de
cerveja é o que dá mais dinheiro, mas eu separo tudo para vender: papel, vidro,
plástico... Às vezes, tiro até 400 reais por mês", diz Keliane da Silva,
de 19 anos, que sobrevive do que encontra no lixão.
Na última década, a cidade com mais de 200 000 habitantes que mais ampliou a
coleta foi Itaboraí, no Rio. Em 2000, 60% de seus domicílios eram atendidos.
Hoje, são 93%. O investimento reduziu o despejo de lixo em rios e na Baía de
Guanabara. Desde 2010, tudo é descartado em um aterro particular, em uma região
isolada do município. Itaboraí se livrou da sujeira, mas ainda tem o desafio de
reaproveitá-la. A cidade apenas engatinha na coleta seletiva. Só assim o lixo
recolhido vai se transformar em riqueza.
LIXO (POPULAÇÃO ATENDIDA PELA COLETA)
AS MELHORES
Santo André (SP) - 100%
Taboão da Serra (SP) - 99,9%
Barueri (SP) - 99,9%
Americana (SP) - 99,9%
Joinville (SC) - 99,8%
AS PIORES
Santarém (PA) - 75%
Marabá (PA) - 78,5%
Caucaia (CE) - 82,5%
Petrolina (PE) - 88,7%
Belford Roxo (RJ) - 88,7%
POR: Marcelo Sperandio / Coordenação: Mario Sabino - Veja - 02/11/2011
SITE:
Resumos Relacionados
- O Lixo, Em Outras Metrópoles
- Lixo-um Problema Para As Cidades
- Lixo-um Problema Para As Cidades
- Reciclar É Legal! É Nossa Responsabilidade!
- Aprenda A Separar O Lixo Doméstico
|
|