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Precisamos falar sobre o Kevin
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"É só isso que eu sei. Que, no dia 11 de abril de 1983, nasceu-me um filho, e não senti nada. Mais uma vez, a verdade é sempre maior do que compreendemos. Quando aquele bebê se contorceu em meu seio, do qual se afastou com tamanho desagrado, eu retribuí a rejeição — talvez ele fosse quinze vezes menor do que eu, mas, naquele momento, isso me pareceu justo. Desde então, lutamos um com o outro, com uma ferocidade tão implacável que chego quase a admirá-la. Mas deve ser possível granjear devoção quando se testa um antagonismo até o último limite, fazer as pessoas se aproximarem mais pelo próprio ato de empurrá-las para longe. Porque, depois de quase dezoito anos, faltando apenas três dias, posso finalmente anunciar que estou exausta demais e confusa demais e sozinha demais para continuar brigando, e, nem que seja por desespero, ou até por preguiça, eu amo meu filho. Ele tem mais cinco anos sombrios para cumprir numa penitenciária de adultos, e não posso botar minha mão no fogo pelo que sairá de lá no final. Mas, enquanto isso, tenho um segundo quarto em meu apartamento funcional. A colcha é lisa. Há um exemplar de Robin Hood na estante. E os lençóis estão limpos." (Página 372 - Precisamos falar sobre o Kevin, best-seller de Lionel Shriver, que inspirou o roteiro de Rory Kinnear e da escocesa Lynne Ramsay, também diretora, para o filme de 110 minutos, produzido em 2011.)

Rejeitado desde a gestação pela mãe Eva (Tilda Swinton), Kevin (Ezra Miller) revela seu ódio desde os primeiros meses de vida. Seu choro supera o ruído de uma britadeira, e o bebê só encontra amparo nos braços do pai Franklin (John C. Reilly). Embora o casal seja aparentemente feliz, não entra em acordo sobre a criação do menino, em especial no que diz respeito aos limites, à contenção.

O desenvolvimento psíquico de Kevin se dá entre uma mãe culpada e um pai omisso. Inicialmente, quando o menino tem por volta de dois anos, não fala e tem dificuldade em interagir com os outros (em especial com o outro primordial, a mãe), pode-se imaginar que ele é autista (um dos tipos de esquizofrenia - estrutura psicótica). Mas, no desenrolar da história, vê-se que é uma estrutura perversa.

A criança, embora possa, não controla os esfíncteres (uretral e anal), obrigando a mãe a manter a troca de fraldas do já menino que passa dos cinco anos de idade. Esta situação é o reverso do bebê que não mamou na idade em que deveria ter sido amamentado.

Kevin desafia a mãe, por meio do descontrole das funções excretoras. E a única vez que Eva impõe limites, atirando-o contra a parede, ele vai parar no hospital, com o braço quebrado. Mesmo assim, retorna à casa e mente ao pai, dizendo que a lesão se deu acidentalmente. A mãe não o desmente e assim fica desautorizada ante o filho, como se desse sinal verde as suas perversões. Ele sabe da lei e a nega, não admite a castração. Cria sua própria lei, manipula e atua friamente sem compaixão aos demais.

O que faltou à Kevin? Laço, surras homéricas mesmo, diriam alguns. Ou faltou outro tipo de laço? Os afetivos, com os pais e a irmãzinha? A única irmã, mais nova do que ele, desvela o conflito entre o casal: Franklin só se dá conta de que Eva está grávida, quando a gestação já aparece no corpo esquálido e Kevin a aponta. Ele pergunta à esposa, por que não o consultou sobre ficar ou não grávida. A irmã mais nova e mais amada pela mãe, passa a ser alvo de Kevin, que a lesa das mais diversas formas, tanto´física quanto emocionalmente. O irmão inclusive usará suas habilidades adquiridas pelo hobby predileto, ensinado pelo pai, contra a irmã, mais tarde. Pai e filho se aplicaram muito em acertar o alvo com flechas, no jardim de casa, já que Kevin não tinha amigos e em nenhum momento seus pais aparecem em encontros sociais. Ou seja, Kevin parece encarnar a indiferença emocional da mãe em relação a ele próprio, porém a partir dele para o mundo; e a agressividade mortífera do pai, cuja diversão com o filho é justamente a mirada fatal.
A mãe sem braços para abraços. O pai no abraço tenso e funesto do arco e da flecha. Assim Kevin aprende a afetar os outros, de forma invasiva e num furor apaixonado, passando ao ato em um espetáculo sangrento. Kevin se vestia de Robin Hood, para brincar de morte no jardim. Flecha certeira: o roubo dos bens dos ricos (em afetos, por suposto seus pais) para dar aos pobres (de afetos, ele mesmo).
O diálogo silencioso e tenso da mãe com o filho, nas inúmeras visitas à penitenciária, prenunciam que a temporada de cárcere talvez não mude coisa alguma. Permenacerá, no entando, a relação mãe-filho - os sobreviventes. Talvez na esperança de que o amor em excesso e não correspondido de Kevin pela mãe encontre lugar no longo caminho trilhado pelo ódio.



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