Ignaz Semmelweis e a Febre Puerperal
(Leon Gordis)
No
início do século XIX a febre puperperal era uma das principais causas de morte
entre as mulheres que tinham acabado de dar à luz - 25% de mortalidade.
Teorias da época explicativas deste fenómeno: toxinas atmosféricas; "constituição epidémica" de certas mulheres; ares putrefactos; influências magnéticas e solares.Ignaz Semmelweis, obstetra e professor no Viena General Hospital (Áustria), relacionou as manifestações clínicas da doença com as observações das autópsias das mulheres que tinham morrido e identificou a origem do problema.O Viena General Hospital tinha duas clínicas de obstetrícia: A Primeira Clínica, a cargo de médicos e de estudantes de medicina e a Segunda Clínica, a cargo de parteiras.OBSERVAÇÕESA mortalidade na Primeira Clínica (16%) era mais do dobro da que era observada na Segunda Clínica (7%).Na Primeira Clínica faziam-se autópsias e na Segunda Clínica não.Ignaz Semmelweis suspeitou que a alta mortalidade que se observava na primeira Clínica se devia ao facto de os médicos e estudantes de medicina saírem da sala das autópsias directamente para junto das pacientes que assistiam (os exames feitos às mulheres provocavam-lhes frequentemente traumatismos na vagina e no útero).Na Segunda Clínica, as parteiras não tinham contacto com a sala de autópsias.Ignaz Semmelweis sugeriu então que as mãos dos médicos e dos estudantes talvez transmitissem partículas causadoras de doença dos cadáveres para as mulheres que estavam prestes a dar à luz. Exigiu que os médicos e estudantes lavassem as mãos e escovassem as unhas antes de entrar em contacto com as mulheres que examinavam. Resultado: a mortalidade de mulheres na Primeira Clínica desceu para os níveis de mortalidade da Segunda Clínica. Quando mais tarde Semmelweis foi substituído por um colega que não concordava com a sua teoria e que eliminou a obrigação da lavagem das mãos, as taxas de mortalidade por febre puerperal voltaram a subir - evidência que veio reforçar a existência de uma relação causal entre mãos sujas dos médicos e doença puerperal.Infelizmente Ignaz Semmelweis não publicou as suas observações e conclusões - só em 2003 elas foram divulgadas numa biografia de Semmelweis publicada por Sherwin Nuland.LIÇÃO A TIRAR DESTE CASOAs normas só têm aceitação por parte tanto do público como dos profissionais quando: é apresentada prova científica que fundamente a intervenção que se propõe; a norma é exequível; existe apoio comunitário, profissional e político.As observações de Ignaz Semmelweis precederam qualquer conhecimento da teoria dos germes.Anos mais tarde foi reconhecido que a principal causa da febre puerperal era uma infecção por estreptococos.A necessidade da lavagem das mãos é hoje universalmente aceite mas estudos recentes deram a conhecer que muitos médicos em hospitais dos Estados Unidos e de outros países ainda não lavam as mãos como recomendado.
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