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Lucíola
(José de Alencar)

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O que se pode dizer sobre Lucíola
que já não tenha sido dito? A maioria dos que escrevem sobre essa, que é uma
das mais conhecidas obras de José de Alencar, não deixa de citar sua semelhança
com A dama das camélias, de Alexandre Dumas Filho, que de tão parecido é quase
um plágio.

Para Valéria de Marco, autora que prefacia a
edição ora resenhada, o que difere a obra brasileira da francesa é que enquanto
nesta o narrador presta um depoimento quando em febre em decorrência da morte
da amada, depoimento este que tem por propósito convencer seu confidente de que
por ser uma cortesã diferente das outras, Margarida merecia ser amada, aquele é
um exame racional, escrito, de uma experiência, feito por um narrador que tem
por propósito responder a uma senhora sobre o porquê de sua condescendência para
com pessoas que escandalizam a sociedade. O primeiro e o segundo argumentam, um
de modo mais apaixonado, outro de modo mais elaborado. Embora sejam relevantes,
essas características não são suficientes para distinguir mais objetivamente
uma obra da outra, já que essas diferenças são do campo da expressão, ou seja
da opção de escrita do autor. Esta é uma diferença pequena se comparada com o número
de semelhanças entre as obras, relacionadas com os valores das sociedades
retratadas.

Dama das camélias e Lucíola são
ambas estórias de amor, de relacionamentos improváveis ou não condizentes com
os valores morais da época em que se passam. Os enamorados são jovens cultos,
educados, estudados, afeitos à vida de ócio e de prazeres. As amadas não são
senhorinhas de salão, prendadas. São cortesãs. E pelo código, mulheres que
entregam seus corpos a quem não amam, por prazer ou por questões de sobrevivência
não devem ser consideradas como as mulheres de família, tampouco receber o que
estas recebem: um nome, uma casa, respeito, amor. São menos, merecem menos.

Mas Margarida e Lucíola quebram o
código: elas amam e são amadas. Para Lucíola, desde o primeiro momento, foi
amor, que ela idealiza e que por isso, procura eximi-lo do sexo, mas que, pelo
desejo de ambos, intenso, sucumbe. E é este o grande conflito que a consome.
Sonha em ter uma casa, uma família com o jovem amado, mas não se julga merecedora,
não concebe o sexo com amor e para ela, toda vez que ela e ele se tocam é como
se o que existisse entre eles diminuísse em valor, deixasse de ser puro. Quando
engravida, quase que enlouquece, pois não concebe que um corpo com uma estória
como a sua pudesse conceber uma nova vida. Por que não? O rapaz, que diz amá-la,
o faz em reclusão, é um amor vivido às escondidas. Pode-se dizer que não têm
forças para assumirem o que são, o que sentem e suas escolhas diante da
sociedade. Quando numa casinha recém comprada e recolhida, Lucíola é
reconhecida por uma vizinha, adoece. É a incapacidade de ser quem se é, ou de
assumir ou perdoa-se pelo seu passado. Pode-se
concluir que a sociedade em que viveram foi exímia em ensiná-los a não se
reconhecerem como pessoas de valor, o sexo e as posses ainda a definir o lugar
de cada um na sociedade. Para as mulheres e para esse tipo de relacionamento
nenhum perdão a não ser a morte. Pois os rapazes que emergiram das estórias trágicas
puderam contar suas estórias. Elas não. A opção por matá-las ilustra bem a
força dessa falsa moral que ainda mantém sua força dois séculos depois. Os
homens saem incólumes, mais tarde poderiam constituir família, sem nenhuma
mácula. A prostituição só macula as mulheres. Espera-se mais delas, no que se
refere ao comportamento sexual. Por quê?



Houve um tempo em
que Lucíola, A dama das camélias, Christiane F, entre outros
livros, eram proibidos para menores. Os adultos escondiam seus exemplares, que
nem por isso deixavam de serem devorados pelos jovens, sem que aqueles
soubessem. Os tempos são outros, o que tem feito sucesso entre os jovens de
hoje são jovens bruxinhos ou semideuses às voltas com deuses e monstros mitológicos,
consideravelmente higienizados quanto à discriminação da mulher e às questões
do sexo. Uma pena



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