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Antes que cases
(Machado de Assis)

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Era um dia um rapaz de vinte e cinco anos, bonito e celibatário, não rico, masvantajosamente empregado. Não tinha ambições, ou antes tinha uma ambição só; eraamar loucamente uma mulher e casar sensatamente com ela. Até então não seapaixonara por nenhuma. Estreara algumas afeições que não passaram de namoricosmodestos e prosaicos. O que ele sonhava era outra coisa.A viveza da imaginação e a leitura de certos livros lhe desenvolveram o germe que anatureza lhe pusera no coração. Alfredo Tavares (é o nome do rapaz) povoara o seuespírito de Julietas e Virgínias, e aspirava noite e dia viver um romance como só ele opodia imaginar. Em amor a prosa da vida metia-lhe nojo, e ninguém dirá certamente queela seja uma coisa inteiramente agradável; mas a poesia é rara e passageira — a poesiacomo a queria Alfredo Tavares, e não viver a prosa, na esperança de uma poesia incerta,era arriscar-se a não viver absolutamente.Depois de hesitar uns dez minutos, e de tomar ora por uma, ora por outra rua, Alfredoseguiu enfim pela da Quitanda na direção da de São José. Sua idéia era subir depois poresta, entrar na da Ajuda, ir pela do Passeio, dobrar a dos Arcos, vir pela do Lavradio atéao Rocio, descer pela do Rosário até a Direita, onde iria tomar chá ao Carceller, depois doque se recolheria a casa estafado e com sono.Foi neste ponto que interveio o personagem que o leitor pode chamar Dom Acaso oumadre Providência, como lhe aprouver. Nada mais fortuito que ir por uma rua em vez de irpor outra, sem nenhuma necessidade que obrigue a seguir por esta ou por aquela. Poiseste ato assim fortuito é o ponto de partida da aventura de Alfredo Tavares.Havia em frente de uma loja, que ficava adiante do extinto Correio Mercantil, um carroparado. Esta circunstância não chamou a atenção de Alfredo; ele ia cheio de seu próprioaborrecimento, de todo alheio ao mundo exterior. Mas uma mulher não é um carro, e acoisa de seis passos da loja, Alfredo via assomar à porta uma mulher, vestida de preto, eesperar que um criado lhe abrisse a portinhola.Alfredo parou.A necessidade de esperar que a senhora entrasse no carro, justificava este ato; mas arazão dele era pura e simplesmente a admiração, o pasmo, o êxtase em que ficou onosso Alfredo ao contemplar, de perfil e à meia luz, um rosto idealmente belo, uma figuraelegantíssima, gravemente envolvida em singelas roupas pretas, que lhe realçavam maisa alvura dos braços e do rosto. Foi... foi o primo Epaminondas.A explicação satisfez Alfredo durante três dias.No fim desse tempo abriu um jornal e leu com pasmo esta mofina:Mina de caroço, Com que então os cofres públicos já servem para nutrir o fogo nocoração dos ministros? Quem pergunta quer saber.Alfredo rasgou o jornal no primeiro ímpeto.Depois.. Mas em suma que tens? disse Tibúrcio ao ver que Alfredo não se atrevia a falar.— O que tenho? Fui à cata de poesia e acho-me em prosa chata e baixa. Ah! meu amigoquem me mandou seguir pela Rua da Quitanda?



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