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O Clube do Filme
(David Gilmour)

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E de repente David Gilmour tomou
uma decisão radical. Crítico de cinema que, aos 50 anos, vê a ameaça de
desemprego bater-lhe à porta, Gilmour (não confundir com o músico) suspeita da
possibilidade de uma situação ainda mais delicada, que estaria tomando forma
dentro de sua casa. Jesse, o filho adolescente, vem se saindo mal na escola, e
o desinteresse pelas aulas – que ganha ares de repulsa – sugerem o pior.
Temendo que o filho termine enveredando pelo mundo das drogas, Gilmour lhe faz
uma inacreditável proposta: Jesse está livre para não ir mais à escola; livre
para acordar à hora que bem entender; e isso tudo sem ter de trabalhar ou pagar
aluguel. Para isso, deverá cumprir duas únicas condições: não se envolver com
drogas e, três vezes por semana, assistir um filme com o pai, e conversar
depois sobre o que assistiu. Nisto se baseará a sua educação.



A curiosa estratégia de Gilmour
para educar Jesse é o mote de O Clube do
Filme (Editora Intrínseca, 2009). Baseando-se em experiência pessoal, o
autor abastece de questionamentos a sua participação na adolescência do filho,
justamente o momento em que a distância se interpõe sutil, mas solidamente,
entre os dois. Decidido a não apenas oferecer informação ao jovem que está
vendo crescer diante de seus olhos (e que sabe que logo não o terá mais por
perto), Gilmour quer afastar a recorrente imagem do filho dirigindo um táxi no
futuro, sem jamais ter tido a chance de explorar todo o seu potencial. Gilmour
espera, com os filmes e as conversas, aproximar-se de Jesse e poder
fornecer-lhe o estímulo, a iluminação que o faça, ao menos, querer procurar o
seu próprio caminho.



Não se trata, no entanto, de
decisão fácil. Ainda que apoiado pela ex-esposa (mãe de Jesse) e pela namorada
atual, Gilmour não está livre do dilema de não ter a certeza quanto ao que está
fazendo. Sabe que corre um grande risco, e que sua iniciativa pode estar
causando um dano grave na formação profissional do garoto. Por isso, na seleção
das obras que exibe para o filho, há sempre a preocupação de fazer coincidir
informação variada, formação moral e diversão.



A seleção dos filmes é eclética,
e saborosa para os amantes da sétima arte. Sem prender-se a gêneros ou artistas
(apenas realizando, vez ou outra, “festivais temáticos”), pai e filho assistem
Truffaut, Godard, Kubrick, Kurosawa, Hitchcock, John Ford. E os contemporâneos
Spielberg, Scorsese, Woody Allen, e também filmes pouco apreciados pela
crítica, mas de apelo popular, como Instinto
Selvagem, entre outros. Em seus comentários, vê-se a paixão do autor pelo
cinema, por atores e cineastas. Paixão que, justamente por ser paixão, é às
vezes imparcial, às vezes exagerada, fazendo com que alguns atores (Marlon
Brando e Audrey Hepburn, por exemplo) e filmes acabem ganhando mais destaque do
que outros. E paixão que não impede o apaixonado de apontar defeitos no objeto
amado: comentários como “atualmente os filmes de Woody Allen dão uma sensação
de dever de casa feito às pressas”
são felizes e pertinentes.



Também é divertido ver as discordâncias
entre os protagonistas. Fã de hip hop, Jesse detestou Os Reis do Iê Iê Iê, com os Beatles (de quem Gilmour é fã) e ainda
achou Lennon “o pior dos quatro”. As discussões, simples, leves, básicas, são
quase monólogos do pai, ainda que sua posição seja sempre a de provocar o
raciocínio do outro. O garoto, no entanto, só parece disposto a falar quando o
assunto são as namoradas, principalmente certa Rebecca Ng, que partiu seu
coração e se torna assunto recorrente. Gilmour, aliás, demonstra uma louvável paciência
ao lidar com as incertezas românticas do filho. O que pode ser explicado pelo
fato de que ele próprio, em sua juventude, sofrera tanto ou mais por causa das
mulheres, e agora procure evitar o mesmo futuro para Jesse.



O Clube do Filme revela-se, assim, um olhar delicado, sincero e
nostálgico sobre a difícil relação entre pai e filho, sobre as dificuldades que
o amadurecimento inflige a ambos. É também uma declaração de amor de um pai por
seu filho, sendo os filmes o instrumento de realização deste amor. Pode-se
questionar a excessiva liberdade dada ao rapaz, e o fato de que Jesse (por mais
que Gilmour o defina como adorável) apareça no livro como um garoto mimado, que
só procura o frágil pai quando está sofrendo por assuntos de que tem vergonha de
tratar com os amigos da mesma idade.



O leitor menos paciente poderá
mesmo irritar-se com o comportamento do garoto, por mais que a idade venha em
sua defesa justificar as besteiras que ele seguidamente comete. Felizmente, o
texto leve permite uma leitura rápida, e muito prazerosa nos citados
comentários quanto aos filmes. Encerrado O
Clube do Filme, a sensação de saudade do autor por aquele período “que não
voltará mais” acaba sendo um pouco compartilhada pelo leitor. A vontade acaba
sendo a de chamar uma pessoa querida, fazer uma lista de filmes e criar um
clube também.



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