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Violetas e Alfazemas
(Lino de Albegaria e Lúcia Hiratuka - Ilustradoera)

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Maria Rita lembra que, nos desenhos dos livros, as avós, normalmente, são pessoas idosas, com os cabelos branquinhos, e fazem crochê, tendo um xale sobre os ombros. Mas sua avó, a Rita, a quem o filhos e os netos chamavam, simplesmente, de Rita, era diferente das avós das histórias infantis. Só usava óculos para ler, pintava os cabelos e fazia dieta, porque se achava gordinha. Fazia ioga, colecionava cristais, acendia incensos e, de tempos em tempos, arrumava um namorado.Rita morava numa casa, com jardinzinho na frente, cheio de flores. E em todos oa cantos da sala haviam vasos de violetas de todas as cores e vários bibelôs de elefantes, todos com o traseiro virado para a rua.. E a casa era impregnada de cheiro de incenso, que ela espalhava por todos os cômodos. E havia os perfumes... muitos deles, no banheiro e no quarto. E muitas almofadas, espalhadas na sala e no quarto. Rita só gostava de perfumes jovens e repudiava o que chama de "perfume de velha". E Maria Rita lembra que o colo de Rita era mais cheiroso do que todos os perfumes e mais macio do que todas as almofadas. E lembra, ainda, das noites em que ia dormir na casa da avó, onde haviam travesseirois enormnes, e feitos de penas.E havia tanta coisa na casa de Rita! Quadros com pinturas, fotografias, uma tapeçaria na sala, borboletas de vidro no corredor, cortinas claras e rendadas, tapetes. Um mamoeiro e grama no quintal. Sobre esta, Rita colocava uma toalha e tomava sol de olhois fechados.Na casa de Rita também haviam as gatas, que disputavam seu colo com Maria Rita e, durante a noite, pulavam para a cama, para dormir com elas. Uma delas teve dois filhotes e um, com o nome de Branca, depois de algum tempo, foi morar no apartamento da menina. Maria Rita pensa que, além do nome, a gatinha é a única coisa que ela tem de parecido com a avó, já que não consegue cuiidar de flores, é magra e, ao contrário de Rita, tem um gosto de velha para perfumes. A alfazema é seu preferido. E, ao contrário de Rita, Maria Rita gosta de cozinhar, ao ponto de a avó dizer, um dia, que ela não poderia ser sua neta.Agora, quando vai dormir, deitada em seu travesseiro com um leve cheiro de alfazema misturado ao de xampu que ela usa, Maria Rita sente saudades daquele travesseiro grande e cheio de penas. Seu travesseiro não guardou o perfume das lágrimas que ela derramou nele, porque, como ela sabe, as lágrimas não tem cheiro, mas apenas dor. E o choro de Maria Rita é silencioso como o de seu pai. Igual ao choro que seu pai chorou dentro do carro, quando voltavam do cemitério, onde deixaram Rita. E Maria Rita chora sozinha, no escuro, tendo apenas a Branca como testemunha. E lembra da Rita, a mulher macia e cheirosa, que nunca chamou de avó e que nunca a chamou de neta. Eram, apenass, uma mulher e outra mulher. E tinha dias em que Rita dizia que, das duas, a mais velha era Maria Rita. Porque Rita ria muito e tinha mais pique que a neta.Algum tempo depois que Rita morreu, o pai de Maria vendeu a casa. Maria Rita achou um horror terem vendidoi, mas nunca tivera coragem de voltar lá, depois da morte de Rita. Tinha medo de entrar na sala e encontrar murchas todas as violetas, como ocorrera com a roseira do jardim, cujas rosas amarelas eram as favoritas de Maria Rita.Uma noite, Maria Rita levantou para tomar água e viu luz na sala. Viu que seu pai folheava um álbum de retratos. Quando chegou perto, ele lhe mostrou uma a uma as fotos de Rita. Uma menina gordinha. Uma mocinha. Na praia de maiô. Vestida de noiva, com o avô. Com o pai e os tios ainda pequenos. Com os netos e com Maria Rita no colo. Passado alguns dias, Maria Rita roubou esse retrato e o guardou no fundo de sua gaveta, para poder olhá-lo à vontade, sempre que desejasse, sozinha em seu quarto. Ela e Rita juntas.Passado algum tempo, Maria Rita teve que passar pela rua de Rita e viu as máquinas passando por cima do que tinha sido a casa. Tudo virando poeira. Mais algum tempo, voltando a passar pela rua de Rita, sobre a poeira de sua casa, viu construído um edifício todo branco. Voltou para o apartamento. Sentia fome. Encontrou um mamão na geladeira e, enquanto o comia, tomou umna decisão. Teria mais um enfeite em seu quarto. Do outro lado do porta-retratos, separado do vidro de alfazema, colocaria um vaso de violetas.



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