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Emoções e Sensações de Poeta
(José Luis Monteiro)

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Começou a viagem” de
José Luís Montero é esse itinerário que nos arrasta para o labirinto da prosa
poética e do verso abandonado.



Palavras roucas,
vividas e sofridas, a maioria das vezes, explodem em socalcos a cortar a linha
previsível do pensamento.



A associação
inesperada, corpo estranho, é a essência de uma poesia tendencialmente
surrealista, telúrica, viril, que nos desconstrói o conforto e nos coloca,
de forma crua, diante da efemeridade da vida. Há um grito dorido, rebelde
resultante da impotência do poeta perante a inexorabilidade da viagem em
direção à morte. Esta dor transfigura-se noutras emoções que se vão atomizando
e, ou seguem num crescendo quase épico, ou se reduzem a múrmuros silêncios.



Espuma de emoções sem
filtro, estertor subterrâneo adivinhado, “Começou a Viagem” é a busca
urgente da realização na plenitude, assente apenas naquilo que interessa ao
poeta: a emoção. Para atingir esse estádio é fundamental viver de forma
total, isto é, experienciar as dicotomias da vida e daqui extrair
emoções:



“Depois de tudo/ Fica
ou não fica/ A sensação de plenitude/ Porque/ No mau/ No bom/ No
medíocre/ Na verdade/ Na mentira/ Na vida/ Na morte/ Só conta
a emoção/ Que nos impele para os braços/ De quem amamos/ Queremos/
Ou desejamos” (pp.20/21)



Em alguns poemas, é
visível o prazer do poeta quando, mesmo que por instantes e forma muito
irónica, dá a ilusão de sentir esta plenitude: “ Ah…o que desfruto/ Quando faço
um poema triste/ Sem estar triste…” (p.50)

Há como que um deleite
quase infantil em fintar o leitor, uma ironia na sua transmutação. Diria estar
na presença do “fingere” de Fernando Pessoa.



Outros momentos há em
que o poeta parece deixar-se arrastar por uma espiral de situações
negativas, assentes em frases curtas, contundentes, envoltas numa
linguagem disfórica. A consumação desapiedada de uma espécie de
fracasso da vida.



“Secaram as palavras
na rua direita…(…) A vida dobrou a esquina e escorregou. O desastre sentiu-se
realizado”. (p.23)



Escrever para o poeta
é “Morrer devagarinho/ (…) Orgasmo infinito/(…) Viver sem dormir.” (p. 47)



É notório, ainda, o
desencanto diante de uma sociedade que ele critica pelo marasmo, pela cobardia
do conformismo, pelo comprometimento em porto seguro :

“Atacar/ Morder
a moral/ É privilégio de poucos./ Mas/ Resignar-se à moral/ É costume universal
e mal de muitos.” (p.38)

Por isso mesmo“ Existe
uma Liberdade submissa/ Que aponto com o dedo mindinho” (p.18) numa atitude
sarcástica e de genuíno desdém.



O poema que fecha a
obra, sendo a sua organização possivelmente arbitrária, não fecha o deleite do
poeta pelo mundo da ilusão onde, aí, pode recriar e recriar-se:

“Que bom é/ Ver
infinitas ilusões/Sem/ Parecer-se a São Tomé…”(p.50)



E entre sombras e
escombros, entre formas e sons, entre sabores e odores, as palavras soltam-se
numa aparente desarmonia como que o reflexo de José Luís Montero no
espelho da sua vida:

“…a minha existência
que luta por não existir e que deseja desertar.” (p.24)



Pela riqueza e
promessa literária nela pressentida, a poesia que ressumbra das palavras
deste poeta leva-nos a desejar que o “peregrino”, após breve descanso da sua
caminhada, pegue “ no cajado, no côco e na concha para não deixar que a vida
pare nunca.”, porque, brincando com o poeta: Sorte que tivemos/…Se ela se
tivesse ausentado/ Que seria de nós e de todos estes poemas?

“Começou a viagem” que
ainda não é finda. Que continue para que a vida não pare. Nunca.



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