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Barba ensopada de sangue
(Daniel GAlera)

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Ambientado em Garopaba – Santa Catarina, cidade litorânea,
alguns mistérios se estabelecem e exigem ser desvendados. O desenrolar dos
fatos permite que o leitor anseie pelo esclarecimento do principal deles: o
assassinato do avô do protagonista, que, no romance possui duas peculiaridades
que delineiam bem a trajetória deste na trama: 1ª) ele é portador de uma
condição neurológica pouco explicada no texto e que o impede de reconhecer
rostos e 2ª) sendo protagonista, é importante frisar, ele não é chamado pelo nome em praticamente
nenhum momento durante as 422 páginas em que se desenrola a trama.



Sobre o protagonista:
professor de educação física, que após a morte do pai, resolve se mudar
para Garopaba, uma cidade litorânea paradisíaca, misteriosa e sinistra. Solidão, amores fugazes, ajudas inesperadas e
amizades improváveis são apenas alguns dos elementos que compõem a trama. Todas
as paisagens que o livro sugere, pelas descrições, se integram perfeitamente
aos acontecimentos: a chegada a uma cidade estranha, a busca por um lugar fixo
de moradia onde todos aqueles com quem ele faz os primeiros contatos só pensam em
se acomodar provisoriamente, a reconstituição do passado com fragmentos de
memória e às vezes, menos do que isso, arranjar um emprego para se manter,
ajudar os amigos, ser ajudado pelos amigos e por pessoas não tão próximas e etc.
Entre encontros e desencontros, o protagonista, ao longo da trama, vai alcançando o objetivo de
reconstruir determinados fatos do passado que ele, em alguns momentos, duvida
que realmente tenham acontecido.



É importante retomar aquela estranha condição neurológica e
o fato de o personagem principal não ser chamado pelo nome - em praticamente
nenhum momento durante as 422 páginas do romance - , se
configuram como aspectos basilares, ainda que para alguns isto se configure como mera questão secundária. No entanto, esse aspecto revela uma importante
postura do autor quanto à questão da nomeação, da memória e da identificação
dos laços de afeto no transcorrer dos fatos e dos eventos ali retratados.



E aqui pode-se identificar um ‘jogo’ interessante do autor:
todas as personagens são dotadas de uma concretude perturbadora, que se observa
também em relação ao avô, que apesar de não estar mais naquele contexto, no
cotidiano daquela cidade, tem seu nome citado ao longo de todo o livro. E o
protagonista, não. Isso é muito vívido pois, após a leitura do livro, é
possível ter a impressão de que existe uma espécie de equivalência entre esse
neto e esse avô. Os dois claramente não são a mesma pessoa no romance, isso
precisa ficar bem claro. Mas o autor foi muito perspicaz em estabelecer uma correlação
entre ambos ao mesmo tempo forte e oculta. Esse é também um dos aspectos mais
instigantes que o livro apresenta.



Isso remete automaticamente ao ritmo da leitura, que é muito
dinâmico e, justamente por isso, torna a leitura muito prazerosa.



Outro ponto muito bem trabalhado pelo autor foi a maneira
como as personagens faziam parte de suas vidas mutuamente, como se conheciam,
como se uniam e se distanciavam, a narrativa
confere um ‘quê’ de veracidade à forma como os diálogos se constroem. De uma
forma muito real, algumas personagens desempenham um importante papel em determinados
momentos do texto, e algumas têm um desfecho, ainda que inesperado, muito
verossímil.



Ainda pensando nas personagens outro aspecto instigante
reside naquelas que são importantes para o enredo, no entanto a trama é
construída de tal forma que essas personagens não estejam presentes no decorrer
dos capítulos, de modo que apareçam somente em determinados momentos decisivos.



A questão da memória permeia o romance na medida em que
aquele passado que o protagonista almeja desvendar se coloca de uma maneira
muito interessante, e este é a verdadeira mola propulsora do romance. A todo o
momento essa questão é retomada pelo protagonista, que por vezes a abandona sem
de fato abandoná-la, ou seja, esse passado ocupa os pensamentos dele, povoa os
sonhos dele. Traz completude a uma existência solitária, que por vezes quem o
conhece apenas de vista não imagina que ele
tenha que lidar com questões tão complexas. De alguma forma ele toma consciência
do dever dessa busca na trama, e a partir deste momento não mais tenta se
enganar, pelo contrário, ele se lança nessa busca de uma maneira obstinada e
até mesmo obcecada.



Devido a esse diálogo com a realidade, ainda que trate de um
mistério envolto em um evento incomum e inverossímil, por assim dizer, ainda assim, considerando uma perspectiva paradoxal, a estruturação
é muito próxima daquilo que se chama de ‘verdadeiro’, pelas características do
cotidiano, pela interação e pelo diálogo entre as personagens, pela descrição
dos cenários e das paisagens. De modo que é muito fácil, para o leitor comum,
imaginar que este romance poderia ser perfeitamente adaptado para o cinema,
pois as cenas são muito bem definidas, são todas muito vívidas. Mas sobretudo, a maioria dos eventos narrados se aproxima muito da realidade principalmente no aspecto de como
as personagens se relacionam.



Por todos esses aspectos, se delineia uma dialética do real x irreal, do concreto x imaginário. A leitura é tão fluida que
essa dialética, que estrutura todo o romance, não se torna tão evidente. Mas
certamente após a leitura essa névoa do real x irreal se torna mais nítida.



Ao final, o romance se torna ainda mais dinâmico e o desfecho
apresenta alguns clichês, mas a ponte que se estabelece com o início do romance
é muito esclarecedora e permite uma nova compreensão da história como um todo.































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