O Jardim de Nanã
(A Umbanda como ela é)
Nanã Buruquê, velhíssima divindade das águas, era
considerada como a grande justiceira do reino em que vivia. Todos os problemas
que ocorriam eram levados a ela, os habitantes do lugar acostumaram-se a considera-la
a juíza de todas as causas. No entanto, entre cochichos soprados ao pé do ouvido,
Nanã era conhecida como aquela que sempre castigava mais os homens, perdoando
as mulheres.
O modo de agir da juíza Nanã era singular. Ela possuía em seu
palácio um jardim onde havia um quarto para os eguns que eram comandados por
ela. Quando alguma mulher reclamava do marido, Nanã mandava prendê-lo chamando
os eguns para assustá-lo, somente o libertando após horas de terror absoluto.
Oxalufã ao tomar conhecimento das atitudes da juíza, resolveu
visitá-la e passar uma temporada com ela. Chegou ao palácio da velha Nanã
faminto e pediu a ela que lhe preparasse um suco com igbins, sua bebida
predileta e, usando de artimanhas que apenas ele conhecia, fez Nanã beber dele,
tornando-a doce e calma. O tempo foi
passando e a cada dia ela gostava mais do velho rei.
Agora Nanã era uma doce senhora e aos poucos foi cedendo aos
pedidos do velho, se esmerando para agradá-lo. Um dia Oxalufã pediu para
conhecer o seu jardim secreto, do qual muito tinha ouvido falar, no que foi
atendido prontamente. Chegando lá, o rei quis saber como ela controlava tantos
eguns. Orgulhosa por ter a atenção do grande orixá ela acabou revelando como
agia, inclusive ensinando as palavras secretas que usava.
Aproveitando-se de uma ausência de Nanã, Oxalufã vestiu-se
de mulher e foi encontrar os eguns, chamando-os exatamente como ela fazia,
ordenando-lhes que deveriam obedecer a partir dali somente ao homem que vivia
na casa da rainha.
Quando de seu retorno Nanã tomou conhecimento do fato e,
descontrolada por haver sido enganada, rogou uma praga no velho rei que a partir
desse dia nunca mais usaria vestes masculinas. Por isso até hoje Oxalufã
veste-se com saia cumprida e cobre o rosto como as deusas rainhas.
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