Marina, Dilma, a castanheira e o cimento
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A campanha de Marina Silva tem enfrentado dois inimigos, ou talvez duas faces do mesmo inimigo: o patriarcado. Uma corrente é mais sincera, digamos assim. É a mera arrogância em desqualificar uma índia-negra nortista e mística como despreparada, em si, para exercer a presidência.A outra, mais hipócrita, é a mesma que dizia pela boca do Lula presidente que Marina era “o Pelé” do ministério, e agora a transforma em um “novo Collor”. Vinda do PT, é uma acusação bizarra. A propaganga anti-Marina diz: “sabemos como isso terminou”. Sabemos, claro: the original Collor está na base petista.E a tosqueira da campanha valeu um puxão de orelha de Eduardo Suplicy no próprio partido. Mas porque essa opinião seria patriarcal se, na verdade, trata do embate de duas mulheres, no segundo turno? Porque não há nada mais patriarcal do que a propaganda fetichista, vazia de sentido real. Já é suficientemente ruim encarar qualquer coisa como produto; acreditar que o marketing se sobrepõe totalmente às eventuais qualidades do “produto” é catastrófico.Um exemplo drástico disso nesta campanha eleitoral é o Funk do Aécio. Todo mundo culturalmente informado sabe, ou deveria saber, que um dos combustíveis dos gêneros artísticos do gueto e do underground é a credibilidade de rua. O funk do Aécio é uma peça publicitária que qualquer detrator do candidato compartilha com enorme prazer, porque é toda errada. Da presença de playbas e patricinhas branquinhos à evidente desconexão entre o estilo da música e o discurso convencional da política – e à genial frase (enquanto chacota) “Minas se modernizou, isso todo mundo sabe. E agora até minha vó tá usando Whatsapp”.Um dos principais ataques a Marina nos últimos dias foi a, hm, acusação de que ela usa a leitura aleatória da bíblia como uma fonte de inspiração. Aí há não um, há dois preconceitos acoplados. Eu mesmo tenho birra com a bíblia, por causa das implicações repressivas do cristianismo (e das religiões monoteístas em geral). Mas não sou, absolutamente, contra o uso de oráculos ou dispositivos mágicos como disparadores de insights. Confrontada na entrevista no Jornal Nacional, da Globo, na segunda-feira, a resposta da candidata foi exatamente essa. Para além da razão, cada pessoa é um “pacote cultural”, e vai procurar os insights (ela usou o termo) que lhe sejam úteis, onde for. Tanto nas disciplinas científicas quanto na arte e, porque não, nas conexões místicas.O ápice dos ataques nessa linha veio do físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite, que escreveu na Folha de S. Paulo: “O fundamentalismo de Marina Silva não decorre da ignorância, mas de um defeito de percepção. Os especialistas chamam essa condição de desordem do desenvolvimento neural”.Mas quem conhece a história de Marina sabe que ela representa exatamente o oposto do comportamento usual na ortodoxia neopentecostal, em que o “lugar da mulher” é apoiando o seu homem. Nas igrejas evangélicas, a mulher é a santidade, o homem é o santo. Mas Marina é seu próprio milagre.
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