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Era Uma Vez
(Jefferson Guimaraes Santana)

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Há uma interessância no governo Luiz Inácio Lula da Silva, nestes idos de 2004, que merece ser observada talvez com um pouco menos de tecnicalidades ? indispensáveis, que fique claro ? e com um pouco mais, como direi?, daquela fantasia que repousa no fantástico que povoa os bosques encantados e os palácios majestosos das fábulas.
Por que não? O próprio Lula, retirante nordestino e torneiro mecânico alçado à condição de dirigente máximo do país, encarna uma espécie de personagem de conto de fadas heterodoxo, em que o sapo barbudo subtrai o papel principal à princesa. Prova-o, momentaneamente, a voz rouca das ruas, que, na pesquisa CNT-Sensus divulgada na última terça-feira, eleva a aprovação pessoal do presidente de 54,1% para 58,1% ? sem contar os 9 pontos de ganho na avaliação do governo em meio a um festival de suspeitas e denúncias.

Tudo certo, tudo muito bem, os indicadores positivos da economia estão aí, mas, como a própria pesquisa registra, o trabalhador não sente necas de diferença no bolso. Ao que parece, estamos diante de um fenômeno ou de fé religiosa ? que me parece insuficiente nestes tempos laicos ? ou de pura aceitação lúdica de uma narrativa fabulista.

É quando se acredita, pouco antes de dormir, naquela hora nebulosa que separa a vigília do sono, que, apesar da série de percalços da heroína (ou, nesse caso, do sapo), tudo há de acabar bem ? tudo tem de acabar bem. Só que as coisas, pela própria lógica que há de se contrapor às lanças empunhadas contra os dragões, não fazem dos reinos encantados lugares infensos ao terror. E a noite, que inicialmente parecia tranqüila, pode terminar em susto e em insônia.

Querem o rei e a corte da Lulândia que o brilho da vislumbrada fartura dos banquetes corrija todos os males e levem de volta para as escuras florestas as criaturas más; querem que acreditemos agora que os ogros e as bruxas povoam as redações de jornal, interessados em empanar o espetáculo do crescimento, que, já se sabe, nem o próprio governo tem, internamente, como certo.
Na bola da vez, no conto do bem contra o mal, exigem que os jornalistas sejam ?éticos? e não maculem com suas maledicências o encanto de uma fábula movida a metáforas, heróis presumidos e, não menos (que um pouco de realidade crua é sempre necessária), anuidades pagas a corporações de ofício como a Fenaj, ou ao Tesouro, como no caso previsto pela Agência Nacional de Cinema e Audiovisual.
Porque, supostamente, o ?melhor do Brasil é o brasileiro?, e não é justo, com a fantasia instalada naquele lusco-fusco das aparências de um futuro radiante e bom, que se ergam vozes para apontar os perigos das tiranias que se instalam nos castelos. É quando se quer que os cavaleiros do bem ? oficializados pela pena de sua majestade ? sejam apenas os defensores do poder.
É verdade: o rei-presidente segue no momento sob as graças de seus súditos ? está aí, os números, como os espelhos, não mentem. Manda a ?ética? jornalística ? não aquela ditada pela corporação de ofício ? que se escreva e que se divulgue ? e eles foram parar na quarta-feira, como manda o bom jornalismo, na primeira página de todos os jornais. Onde está a distorção, onde o fascismo apontado pelo ministro da Cultura, Gilberto Gil? Onde o dragão que deve ser morto?
A fábula, pela estrada escura que trilhamos, segue em meio a perigos, como se a promessa de um futuro encantado justificasse a eliminação de qualquer dúvida, de qualquer contestação mais assertiva. Como se o dissenso fosse a personagem má desse Brasil brasileiro que quer porque quer, não importam as conseqüências, que o sono dos ?justos? não seja perturbado.
Tudo tem de acabar bem, ponto. Se as maravilhas não são possíveis pela narrativa, que sejam à custa de Lexotan.
E assim dormimos um sono agitado, sonhando com as felicidades prisioneiras de incertezas. Não somos mais crianças. Sabemos o que o repouso custa empenho e suor e que os finais felizes têm um preço. Se decidirmos pagar, que não seja o de transformar as fábulas, honestas na sua singeleza, em histórias da carochinha



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