Contrabandista
(Simões Lopes Neto)
O conto ?Contrabandista? narra a história do capitão dos contrabandistas do Rio Grande do Sul, descrevendo a figura de Jango Jorge, um estancieiro com aproximadamente 90 anos, cuja atividade sempre foi a de contrabandista, um homem fora da lei que transitava pelas fronteiras do Rio Grande, e as conhecia por instinto. Além disso, Jango Jorge já havia participado de muitas guerras, das quais saíra-se vitorioso, atribuindo seus êxitos ao Anjo da Vitória a quem sempre reverenciava. Homem valente, jogador inveterado, que quando ganhava no jogo distribuía as moedas aos filhos no terreiro. Tratava seus cães a laço; gosta de jantas e festas, mas pouco civilizado nessas ocasiões, pois sempre enredava-se à toalha da mesa, derrubando tudo que havia sobre ela. Blau, o narrador conta que certa vez pernoitou na casa de Jango Jorge, conhecendo sua esposa e seus três filhos já moços. A filha de Jango, uma bela jovem em idade de casar, já estava noiva e casualmente, o pernoite de Blau havia sido na véspera do casamento da moça. O noivo já havia chegado, quando Jango sai de madrugada para buscar o enxoval da noiva, o que não de costume, pois geralmente os enxovais das noivas eram confeccionados em casa. O hóspede então se põe a ajudar no abate dos animais que seriam servidos na festa e ao mesmo tempo rememora a atividade de contrabando no Rio Grande do Sul. Recorda-se que antes da tomada das Missões, essa atividade era corriqueira e sem malícia, era sim uma espécie de diversão, para provocar os inimigos da fronteira, cavalos e bois eram trazidos e posteriormente levados pelos espanhóis. Prática comum favorecida pela imensidão dos campos desabitados. Porém, depois da guerra das Missões, os campos foram divididos e povoados e cada estancieiro fazia a sua lei para proteger a sua propriedade. O gaúcho, o cavalo e o facão faziam a lei de proteção da pampa ocupada, e quem governava o Rio Grande era um capitão-general, encarregado de distribuir as sesmarias e somente ele, tinha o poder de usar armas de fogo, até mesmo o baralho com que os gaúchos jogavam eram produzidos e fiscalizados pelo rei, a quem toda a gauchada devia obediência. A saída encontrada pelos estancieiros foi o contrabando, que os abastecia com pólvora, balas,cartas de jogos e jóias para mulheres, trazidas pela fronteira com os espanhóis. Nessa atividade, alguns gaúchos se especializaram, ou seja, levavam daqui, fumo de corda, cachaça e outras bebidas e lá trocavam por outras mercadorias. Os povos eram inimigos, mas os comerciantes se entendiam. Após a guerra dos Farrapos a imigração fomentou ainda mais o contrabando, ao ponto de seus praticantes desafiarem as autoridades. Rompendo-se a guerra do Paraguai a moeda brasileira ganhou valor e assim sendo o contrabando aumenta sua proporção e diversidade, contrabandeava-se de tudo um pouco. A atividade do contrabando explodiu como uma nova fonte de comércio e lucro da qual Jango Jorge era especialista. Na estância de Jango Jorge já havia uma preocupação com sua demora trazendo, enxoval, principalmente por parte da noiva, que aguardava o vestido e os sapatos e os adereços. Muitos convidados e vizinhos haviam chegado para a festa que duraria três dias e três noites. Ao cair da tarde, alguém gritou que Jango se aproximava, todos correram para recebê-lo, o contrabandista era trazido por uma comitiva, pois havia sido morto pelos guardas que fiscalizavam a fronteira e combatiam o contrabando. A festa acabou antes de começar, e vestido da noiva, o véu, os sapatos e as flores de laranjeira haviam se transformado numa plasmada de sangue.
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