Prometheus Bound
(Aeschylus)
Na trilogia da qual Prometeu Acorrentado é a única peça sobrevivente, Ésquilo medita sobre um dos problemas mais inquietantes de todos os tempos, a existência do mal no mundo. Se o divino poder do universo é aceito como onipotente e benevolente ao mesmo tempo, a questão é efetivamente complexa. Em busca da solução, judeus e cristãos representaram, respectivamente, o mal como a serpente que levou Adão e Eva a comerem o fruto proibido da árvore da sabedoria, e como Lúcifer, o anjo caído e o instrumento supremo do poder das trevas. Mas Esquilo retrata aqui Zeus como um tirano ciumento que pune Prometeu por ter dado tal sabedoria ao homem. Na vida real, retratar Prometeu como um criado sofredor e benfeitor abnegado da humanidade levou Esquilo ao banco dos réus perante os magistrados da cidade de Atenas, acusado de desrespeito ímpio para com os deuses do Olimpo. Esta peça possui pouca ação. Prometeu é trazido à cena logo no início e permanece acorrentado a um rochedo durante o resto do drama. Na conclusão perdida da trilogia, se os estudiosos estiverem certos, Zeus desiste de casar com Tétis, ao ouvir de Prometeu que o filho de Thetis será maior do que seu próprio pai, e Prometeu, por ter revelado esse segredo , é posto em liberdade. Note-se que Zeus é assim o primeiro deus retratado no teatro grego como capaz de aprender através da experiência. Esquilo formula o conceito de que um deus é aperfeiçoável. Ora, se o homem foi feito à imagem divina, segue-se que... Idem, ibidem. A beleza, pujança e pertinência deste protesto anti ? tirania de Esquilo, permanecem atuais no século XXI. A arte grega baseava-se na busca tradicional da perfeição idealizada. Embora pouco afeito à tradição, Esquilo se revela aqui um perseguidor igualmente incansável do ideal. A peça é também um dos textos de base em que se fundamentaria, no século XX, o existencialismo de Albert Camus.
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