Resenha do Livro ENVELHECER Histórias, Encontros, Transformações. Pedro Paulo Monteiro
Por Tenzin Namdrol
Editora Autêntica, Belo Horizonte.
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[email protected] Em seu primeiro livro, "Envelhecer: Histórias - Encontros - Transformações", o autor relata como ele e seus clientes idosos, que denomina parceiros de aventura terapêutica, vivem o processo que poderá vir a sanar muito mais do que a preocupação momentânea de um e de outros. Aprendizado conjunto, fluxo na cauda do tempo, como em inesgotável corpo de água que, da infância à velhice, passa de corredeira em riacho, rio, lago ou pântano antes de desaguar no grande mar, em processos sucessivos de adequação ao terreno e ao momento.
Somos seres sem fronteiras, que a busca de uma estabilidade ilusória impede de viver a aventura que encontramos nas incertezas de cada momento, quando o tempo não é inimigo. Envelhecer e viver são processos indissociáveis, tecidos em relações de toda espécie, no qual o ser único em seu tempo vivido estabelece pelo percurso. Nosso organismo é condicionado para a vida, alimentado por laços de relações sociais, processos recíprocos espontâneos de aceitação, também chamados de amor, que permitem ao velho o reconhecimento de seu valor corporal, imprescindível no restabelecimento da cura, rumo à integração social.
Trazemos em nós e no histórico de nossa família os arquétipos familiares do velho, que vão emergindo no decurso de nossas vidas, dando nascimento a um novo perfil quando já não nos encontramos na pujança da vida. Perfil este, de nossa própria criação, reconhecido e admitido no seio da cultura familiar. É assim que cada parte traz a sua contribuição para a visão arcaica do novo velho. A verdade não repousa mais momento pessoal, mas na tradição que levará à marginalização de um e a desmesurada responsabilidade de outros, enquanto que o bem- estar das partes se constrói sobre as adaptações à transparência do momento.
Dependemos de nosso corpo, principal ponto de referência espaço-temporal, para viver e nos realizarmos na corporeidade (a totalidade do humano enquanto ser vivo que faz parte da criação e da natureza). Sem ela somos levados para o mundo da ilusão, dos devaneios e dos sonhos, e é no limite da pele que sabemos que estamos conectados ao mundo. No relacionamento com outros corpos que garantimos nossa referência espaço-temporal. O corpo precisa ser respeitado como um domínio do ser que explora e enriquece a experimentação, adquirindo e doando a qualidade do aprendizado primordial para a vida de todos nós.
A segunda parte do livro trata da dinâmica das imagens mentais que formam nossos conceitos de mundo e contribuem para o reconhecimento de nós mesmos. Aprendemos como o tato pode resgatar a sensibilidade do velho corpo que sofre pela privação sensorial.
A terceira e última parte é o relato do encontro com três velhas mulheres que enfrentaram o paradoxo da vida descobrindo no valor de seus corpos, há muito anestesiados, novos caminhos para suas jornadas e que se tornaram marcantes para o processo de envelhecimento do autor quando lhe foi possível acreditar no fluxo do rio, o grande mestre, que permitiu desvendar alguns mistérios de sua própria história.