Abuso Sexual Da Criança
(Tilman Furniss)
O abuso sexual é uma síndrome de segredo e adição. Segredo: o abuso não é nomeado como tal e acontece como se não tivesse acontecido. A criança não é autorizada a nomear a experiência e, comumente, mediante ameaças, é impedida de falar sobre ela. Adição: a pessoa que abusa sexualmente sabe que o abuso é prejudicial à criança, todavia, não consegue evitá-lo. O processo é conduzido pela compulsão à repetição. Primariamente, serve para o alívio de tensão. A gratificação sexual do ato ajuda a evitação da realidade e apóia uma baixa tolerância à frustração, mecanismos precários de manejo e funções de ego frágeis. É comum que aquele que abusa tenha sofrido abuso (físico ou emocional) na infância. A família organizada evita o conflito O conflito emocional e sexual dos pais é evitado através do abuso sexual de um dos filhos, evitando o enfrentamento dos problemas reais. Na família organizada os pais mantém seus papéis de bons cuidadores dos filhos, exceto pela existência do abuso. A imagem familiar é preservada e a revelação do abuso representa um ruir desta imagem idealizada, com grande dor e choque. A família desorganizada regula o conflito Não há o mesmo grau de segredo dentro da família. O abuso é mantido em segredo, mas muito mais para os de fora da família. Internamente, a família tolera o abuso ?como se não acontecesse?, e a continuidade dele mantém a família existindo. A revelação do abuso, portanto, não conduz a uma crise de magnitude comparável àquela da família organizada e evitadora de conflito. Não há uma grande lacuna entre a auto-imagem da família e a realidade dos verdadeiros relacionamentos. A maior crise das famílias desorganizadas, cujas fronteiras transgeracionais estão grandemente rompidas, é a mudança nos relacionamentos e a introdução de fronteiras emocionais e sexuais durante o tratamento, mexendo com as fundações sobre as quais a família está construída. O atendimento envolve uma rede de profissionais que precisa estar ?afinada? Alguns problemas comuns: <> Conflitos por procuração ? membros da equipe multidisciplinar ou representante de diferentes instituições, se identificam com membros da família que está sendo atendida, vivenciando os mesmos conflitos que a família experimenta. Assim, o colega que se identifica com o pai, defenderá os anseios e sentimentos do pai; o colega que se identifica com a mãe, trabalhará para seu ponto de vista prevaleça, etc. Dessa forma, os conflitos da família se refletirão na equipe ou entre os representantes das diferentes instituições. É preciso compreender esses conflitos e não permitir que sejam atuados, inviabilizando o tratamento da família. <> Atuação da família ? os membros da família podem buscar, desesperadamente, pessoas que apóiem e imponham seus ?pontos de vista? e impeçam a solução terapêutica. Uma adolescente que vêm sofrendo abuso por anos, pode, por exemplo, desejar a prisão imediata do pai e ir buscar apoio em diferentes delegacias, sem permitir que a família posso ?encarar o problema de frente? e que a mãe possa reconhecer sua participação nos anos de abuso; sem permitir que o conflito sexual e emocional do casal venha à tona e o abuso seja constituído como uma realidade e sua função explicitada. A simples prisão do pai (ou outro familiar que pratica o abuso) não resolverá nenhum desses problemas e poderá gerar outros, pois o abusador poderá ser rapidamente solto e a família voltará à condição inicial, sem ter resolvido nenhuma de suas dificuldades. Se a filha mais velha não puder mais ser abusada, uma filha mais nova poderá substituí-la. A síndrome de segredo e adição continuará. Formas de intervenção na família Três tipos básicos: IPP ? Intervenção Punitiva Primária Objetiva a punição da pessoa que abusa. Vê o abuso como monocausal e não como um processo interacional da família. IPC ? Intervenção Primária Protetora da Criança Inclui todas as formas de intervenção em que a criançaa é o alvo da ação direta, com o objetivo declarado de proteger seu desenvolvimento físico, emocional e moral, além de seu bem-estar, enquanto vítima. A retirada da criança do convívio familiar é freqüentemente percebida pela criança como uma punição adicional, resultando em trauma psicológico secundário ao abuso. E a família facilmente percebe a remoção da criança como uma remoção da maldade moral da família. ?Ela sempre foi um puta sexy? ? disse uma mãe. A remoção da criança da família dá aos pais a oportunidade de encobrir e negar, mais uma vez, seus próprios problemas conjugais. As crianças ficam duplamente vitimizadas. ITP ? Intervenção Terapêutica Primária Tem o objetivo de modificar os relacionamentos familiares e não o de punir as pessoas que cometeram abuso ou de remover as crianças, como medidas isoladas por direito nato. Não prescinde da colaboração dos serviços de proteção à criança e das agências legais, ao contrário, depende desse apoio. O pai, ou outra(s) pessoa(s) que abuse(m), deve ser afastado da família, temporariamente, como parte do processo terapêutico. As vezes é necessário que a criança saia, devido a riscos demasiado acentuados, como extrema rivalidade com a mãe. Mas como ponto de partida, a pessoa que abusa deve deixar a casa, e não a criança. Etapas: 1. Bloqueando a continuação do abuso 2. Estabelecendo os fatos do abuso e o abuso como uma realidade familiar compartilhada 3. O pai assumindo a responsabilidade pelo abuso 4. Responsabilidade parental pelos cuidados gerais 5. Trabalho com a díade mãe-criança 6. Trabalho com os pais como parceiros 7. Trabalho com a díade pai-criança
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