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Memórias De Um Sargento De Milícias - Parte 13
(Manuel Antônio de Almeida)

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XIII ? Mudança de vida - Foi com muito sacrifício que o compadre conseguiu fazer o menino freqüentar a escola por dois anos, levando bolos todos os dias. Apesar de o mestre sustentar a fama de cruel, na verdade os bolos eram merecidos pois o menino era da mais refinada má-criação, sempre desobedecia a tudo que lhe era ordenado.
Não parava quieto.
Nunca uma pasta, um tinteiro, uma lousa lhe durou mais de 15 dias, era um velhaco que vendia aos colegas tudo o que podia Ter algum valor, empregando o dinheiro que conseguia, do pior modo que podia.
No quinto dia de escola disse ao padrinho que já sabia ir sozinho, este acreditou e o afilhado, então somou mais um apelido ao de apanha-bolos-mor, era o de gazeta-mor.
O lugar que mais ficava quando cabulava aulas era a igreja da Sé, pois reunia-se gente e várias mulheres com mantilha, de quem tomara certa zanguinha por causa da madrinha. Lá, no meio da multidão, não o encontrariam se o procurassem.
Como não saía da igreja, fez amizade com um pequeno sacristão tão peralta quanto ele, conseguiam se comunicar apenas com troca de olhares.
Essa vida durou muito tempo, até que o padrinho voltou a acompanhá-lo. O menino decidiu que seria muito agradável acompanhar o colega sacristão, afogando em ondas de fumaça a cara da velha que chegasse mais perto e para isso comunicou ao compadre o seu desejo de freqüentar a igreja, tinha nascido para aquilo. Para o padrinho, foi a maior alegria quando ouviu o menino pedir que lhe fizesse sacristão.
Em poucos dias aprontou-se, e em uma bela manhã saiu de casa vestido com a competente batina e sobrepeliz, e foi tomar posse do emprego. Ao vê-lo passar a vizinha dos maus agouros soltou uma exclamação de surpresa a princípio, supondo alguma asneira do compadre; porém reparando, compreendeu o que era, e desatou uma gargalhada e ao chamá-lo de Sr. Cura, o menino respondeu-lhe que seria e haveria de curá-la.
Era aquilo uma promessa de vingança.
O menino chegou à Sé impando de contente, a batina era como um manto real e foi na maior seriedade que entrou na função de sacristão. Já no dia seguinte, o negócio era outro: durante a missa cantada ele ficou com a tocha e o amigo, com o turíbulo, quando de repente, para infelicidade da vizinha, a quem o menino prometera curar, sem pensar, colocou-se junto aos dois e bastou uma troca de olhar para se colocarem em distância e lugar conveniente: enquanto um, tendo enchido o turíbulo de incenso, e balançando-o convenientemente, fazia com que os rolos de fumaça que se desprendiam fossem bater de cheio na cara da pobre mulher, o outro com a tocha despejava-lhe sobre as costas da
mantilha a cada passo plastradas de cera derretida, a mulher ao exasperar-se ouviu o menino dizer que estava lhe curando. Como a igreja estava apinhada de gente, ela teve que suportar o suplício até o fim. terminada a missa queixou-se ao mestre-de-cerimônias e os dois ganharam uma tremenda sarabanda.



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