O Anatomista
(Federico Andahazi)
O Renascimento e o árduo trabalho dos anatomistas numa época dominada pelos dogmas da Igreja Católica, serve de pano de fundo a toda a história. Mateo Realdo Colombo (1516-1559) é cirurgião e professor de anatomia em Pádua. Substituto do grande Vesalio de quem havia sido discípulo, tem seu nome escrito na galeria de ilustres cientistas médicos, como descobridor da circulação pulmonar, o que daria subsídios a Sir William Harvey (1578-1657) em sua descoberta sobre a circulação sanguínea. Entretanto, Federico Andahazi preocupa-se neste livro com outra de suas descobertas, o Amor Veneris, um importante elemento da anatomia feminina. Este achado foi contestado por Gabriel Fallopius (1523-1562) que o atribuiu a si mesmo e, no século XVII, por Kasper Bartholin, que dizia que os anatomistas do século II a.D. já o conheciam.O psicanalista argentino, além de coletar nomes históricos, famosos na época, para caracterizar os personagens de sua surpreendente trama, nos brinda com um interessante relato de como ocorria um processo de acusação de heresia, blasfêmia, bruxaria e satanismo perante o tribunal da Santa Inquisição. Entre os personagens históricos e fictícios destacam-se Massimo Troglio, autor de Scuola di Puttane, Venezia 1539 e os papas Paulo III e Paulo IV, este na vida real, grande amigo de Mateo, cuja obra, De Re anatomica libri XV (Veneza, 1559) lhe foi dedicada. Isso não evitou, entretanto, que seu livro fosse incluído no Index Librorum Proibitorum, que era publicado periodicamente pela Igreja. Entre as mulheres encontramos as figuras de Inês de Torremolinos, mecenas de Mateo e objeto de seu estudo anatômico e Mona Sofia, famosa prostituta veneziana por quem o médico era apaixonado. Também digna de nota é a polêmica, existente ainda hoje, sobre a misteriosa sexualidade feminina, chamada de, o continente negro, pelo pai da Psicanálise. Não por mero acaso, Sigmund Freud denomina o feminino de África e Mateo Colombo, no dizer de Andahazi, fala de sua descoberta como, minha América, minha doce terra encontrada. Divertido irônico e irreverente este é um livro que critica sub-repticiamente a cultura ocidental na qual o significado da conquista, do desejo de saber, oculta sempre em seu interior o desejo de possuir e destruir
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