O Carteirista Que Fugiu A Tempo
(Francisco Moita Flores)
Num tempo em que o crescimento em número das caixas Multibanco ameaçava uma das mais antigas profissões ? a dos carteiristas - e em que o país se encontrava cinzento, sem brilho nem graça, viveu Fred Astaire. Assim o chamavam, hábil nas pistas de dança, mas era na habilidade dos dedos que se encontrava a magia que o permitia viver. E assim vivia bem, espalhando a sua arte de dedos, até surgirem as maléficas caixas Multibanco e as carteiras ficaram cada vez mais e mais vazias. Fred então juntou-se a um grupo de vigaristas que, como ele, tentavam sobreviver contando o conto do vigário, ou por outros meios não aceites pela sociedade. E foram as melhores pessoas que conheceu, a família, os filhos que nunca teve. Fred, a cabeça do grupo, elaborou um plano que, na sua simplicidade, os tornou ricos. Participando em concursos de televisão, fingindo serem quem não eram, conseguiram enriquecer. E foi deste modo que Fred compreendeu em que país vivia, onde se ligava sobretudo ao verniz que cada um envergava, e estava feliz por ter enganado tão boa gente e enriquecido às custas de tal deficiência. Só lhe faltava Inês a seu lado, cuja ausência lhe doía e roía tudo por dentro.
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