Resumo de Fidel Castro - Sebastian Balfour

José Marti, em 1895 escreveu: ? Vivi no monstro e conheci as suas entranhas. A minha funda é a de David.? Referia-se ao seu receio dos instintos expansionistas americanos para sul do Rio Grande.Tinha razão o herói nacional cubano. Em 1926 eles já dominavam quase a totalidade da economia cubana. Cabot Lodje, em 1906 escreveu: ?Estamos insatisfeitos com os cubanos... devemos agarrá-los pelo cachaço e abaná-los até que aprendam a comportar-se. Assim, os anti-imperialistas convencer-se-iam de que existem povos incapazes de governarem-se.?Convinha-lhe ter razão, o senador norte-americano. A leonina ?Emenda Platt? fazia sentir as suas consequências e, mercê de sucessivos governos ?permissivos?, os destinos de Cuba decidiam-se no senado dos E.U.A. A República cubana tinha duas frustrações - subordinação económico-cultural aos E.U.A.; corrupção política nacional ? que proporcionavam sucessivas acções revoltosas, principalmente por parte dos estudantes: em 1923 liderada por Júlio Mella, que com Carlos Baliño funda o Partido Comunista Cubano; em 1933 derrubando o ditador Gerardo Machado, levando ao poder pela primeira vez, Fulgêncio Batista.Eles constituíam um grupo privilegiado onde a classe política recrutava seus dirigentes, na maioria das vezes mais por critérios nepotistas que por mérito moral. Como tal, a sua ascensão política pelas vias democráticas estavam-lhes praticamente vedadas. Os heróis da história cubana estavam mortos e os sobreviventes da última guerra da independência haviam-se transformado em patifes, seduzidos pelo poder e riqueza fácil. Neste panorama político, onde o único poder efectivo era o exército, Batista chega ao poder pela segunda vez na sequência do golpe de estado de 10/Março/1952. Acaba com a constituição de 1940, o direito à greve, os partidos políticos e o Congresso, exercendo o poder por decretos de conveniência. É então que Fidel afasta a ideia da regeneração política cubana por via parlamentar (?Fidel Castro, do menino ao guerrilheiro?, Claudia Furiati). Em 26/Julho/1952, inspirado na tradição cubana do nacionalismo radical de Marti e Guiteras, faz a primeira tentativa insurreccional armada. Falha a tomada do aquartelamento de Moncada, mas o seu prestigio fica aumentado. Amnistiado, exila-se no México onde conhece Ernesto Guevara e organiza uma nova tentativa, iniciada em 1955 (?Os meus anos com o Che?, Hilda Gadea), que o levará à tomada do poder em 1959.Desembarca na costa sul da ilha e embrenha-se na Sierra Maestra, desenvolvendo intensa guerrilha apoiada não só na força das armas, inicialmente reduzida, mas fortemente em termos ideológicos com apoio jornalístico.Tomado o poder, torna-se Comandante-chefe das Forças Armadas nomeando Urrutia Lléo Presidente da República. Posteriormente assume o cargo de Primeiro Ministro elegendo Osvaldo Dorticos Presidente. Era seu objectivo, tornar Cuba numa nação desenvolvida, não corrupta e verdadeiramente independente. No entanto, não eram esses os objectivos do seu vizinho do norte, desde quando ?altruristicamente? auxiliou Cuba, desencadeando a guerra hispano-americana (?1898: derrota em Cuba, Mariano Conde-Luque). A prová-lo: a urgência da CIA estudando planos para derrubar Fidel em Março/1959; e a invasão da ilha (?A Baía dos Porcos?, Haynes Johnson) em Abril/1961... Com pressupostos historico-culturais, socio-económicos, separados por menos de 100 milhas, era inevitável o confronto cubano-americano e Fidel é ?empurrado? para a esfera de influência de Moscovo, assinando acordos de cooperação com Nikita Krushchov, facto que desagrada à opinião pública americana fazendo nascer uma natural antipatia pelo líder cubano. Receando novas investidas dos E.U.A., Fidel autoriza a instalação de bases de mísseis em território cubano. Em Outubro/1962, o mundo fica na iminência de uma guerra atómica quando a armada norte-americana intercepta navios soviéticos que transportam ogivas nucleares para Cuba. A tensão desanuvia quando Washington e Moscovo decidem negociar, conseguindo Krushchov a garantia de que os E.U.A. não agrediriam militarmente Cuba. Em troca retira os mísseis já instalados em Cuba. A solução não agrada a Fidel que se sente traído pelos russos e as suas relações irão arrefecer até final da década, quando as pressões económicas impostas pelos americanos são de tal forma severas que o levam à reaproximação com a União Soviética e ao Comecon. A premente dependência energética cubana é atenuada por troca de açúcar a um preço indubitavelmente mais alto mas, as exportações são inferiores às importações e rapidamente crescem os défices comerciais que são suportados pelos soviéticos. Assim, os cubanos ficam cada vez mais dependentes militar e economicamente. Numa tentativa desesperada para equilibrar a balança comercial, Cuba lança-se num projecto que vai falhar e pelo qual provavelmente ainda hoje sofra consequências: produzir 10.000.000 de toneladas de açúcar em 1970.Entretanto, respondendo às permanentes pressões norte-americanas, Fidel apoia grupos de guerrilha na América-latina e em 21/Agosto/1968, quando os exércitos do Pacto de Varsóvia invadem a Checoslováquia, vê uma oportunidade de reaproximação a Moscovo, apoiando a acção justificando-a como ?um mal necessário?, apesar de reconhecer semelhanças com a ingerência dos E.U.A. em cuba desde 1902...Em 1976 é aprovada uma nova Constituição, inspirada na da União Soviética, que estabelece três pirâmides de poder: o Governo, Partido Comunista e Órgãos do Poder Popular. Com esta alteração interna, fica livre da gestão directa dos assuntos internos e dedica-se à política externa, o que executa com extrema mestria em relação à América-latina, à África e Ásia. Em consequência, Cuba que nos finais da década de sessenta encontrava-se praticamente isolada, acossada pelos E.U.A. e ignorada por alguns países latino-americanos, dez anos depois gozava de prestígio internacional absolutamente desproporcional ao seu tamanho e capacidade económica. Esta alteração foi proporcionada por três motivos fundamentais: a crise petrolífera, a guerra do Vietname e a queda do império colonial português.

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