O Barão Trepador
(Calvino)
Se não estás satisfeito com a tua vida na terra... podes viver nela e fora dela. É a solução que encontra Cosimo, o protagonista deste livro de Calvino. Filho de uma família nobre e abastada, Aos doze anos, Cosimo depois de um pequeno atrito em casa corre para o jardim e sobe a uma árvore. Passa aí o resto do dia, a noite, o dia seguinte, a semana seguinte... e todo o resto da sua vida. Cosimo não descerá mais das árvores. Andará de ramo em ramo, de árvore em árvore, mas nunca mais voltará a pôr o pé em terra. No cimo das árvores faz a sua própria casa, consegue alimentar-se, ler, pensar, lutar, conquistar, etc. É no cimo da árvore que Cosimo se apaixonará, viverá o seu amor, a sua paixão, é do cimo da árvore que participará nas batalhas contra bandos de ladrões e assaltantes, é no cimo das árvores que conseguirá amigos, admiradores, companheiros. E morrerá, depois de muitos anos, num ramo de árvore. Nem mesmo a morte o fará pisar terra. Uma rajada de vento, na hora final, levá-lo-á pelos ares até o seu corpo mergulhar nas águas do mar.
Cosimo tinha tudo: herdeiro de um título, de uma fortuna, a tudo renuncia porque a vida rotineira, com as suas intrigas, não o satisfaz. Por isso opta por uma forma de existência ideal, longe de tudo e de todos, mas partilhando de tudo o que é humano: o amor, as lutas, as guerras, os conflitos... Nada lhe é estranho, mas a partir do seu refúgio, da sua nova forma de vida, do alto de uma árvore donde pode ver tudo de cima, sem se misturar nem deixar seduzir pelas incidências mesquinhas da sociedade humana.
O livro de Calvino pode ser lido como uma espécie de utopia... a fuga desta sociedade obscura para encontrar uma forma de vida ideal, longe dos homens e das suas manhas, em convivio exclusivo com as árvores, a verdadeira habitação nesta terra inóspita e hostil.
Luisacs
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