Violencia e religião
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A violência tornou-se um fato massivo nas sociedades contemporâneas, a ponto de constituir um verdadeiro desafio para a consciência moral do nosso tempo. Sua generalização apresenta-se como um paradoxo no momento em que nossa compreensão dos fenômenos naturais e sociais; em que o avanço do saber científico e das conquistas da razão; em que a consciência do valor e do respeito 3 vida pareciam afirmar-se de modo indiscutível. É justamente no século que acabamos de deixar para trás e neste que agora iniciamos que a violência vem se apresentando em suas formas mais insidiosas, mais cínicas, num grau de refinamento que provavelmente supera em muito os períodos mais cruéis da história da humanidade. Genocídios e torturas cientificamente organizados; perseguições de todos os matizes; depurações raciais e limpezas étnicas; êxodo forçado de populações inteiras e grupos sociais indefesos; terrorismo em formas inumanas; segregação e/ou exclusão econômica, racial e religiosa; todos são comportamentos individuais e coletivos que traduzem nada mais, nada menos, do que o simples e cruel desejo de destruir o outro. E fazem tristemente parte de nosso cotidiano. Como se isto não bastasse, o desenvolvimento técnico-científico deu origem a novas formas de coação moral e física que possibilitam a manipulação e a violação das consciências, verdadeira indústria da alienação e do cerceamento à liberdade. Estas formas são muito provavelmente as mais danosas, pois, manipulando habilmente as motivações, tendem a encerrar o indivíduo numa rede invisível, fazendo com que ele se torne mais prisioneiro na medida em que se sente mais livre. Organizadas técnicocientificamente, estas formas de coerção moral são insensíveis, pois surpreendem a consciência quando ela se encontra indefesa, apoderando-se da vontade dos indivíduos. E por isto talvez constituam a forma mais ameaçadora de violência e o maior dos desafios para o futuro que há de vir. Pois, contra a brutalidade explícita pode-se supor uma reação que se imponha por si mesma, ao passo que as técnicas de adestramento e condicionamento tendem a conquistar a conivência, quando não a cumplicidade daqueles que são enredados em suas malhas. Um dos problemas maiores que se coloca para a humanidade neste início de século XXI é a relação entre a religião e a violência. Todos os observadores dos fatos e grupos sociais o reconhecem.? A violência cobre o planeta em muitos de seus pontos mais importantes, muitas vezes relacionada de perto com a religião e seus fanatismos e subprodutos, tais como os fundamentalismos de toda espécie, as guerras santas, as limpezas étnicas e outros. As análises feitas sobre este fenômeno, no entanto, permanecem, na maior parte das vezes, na superfície das coisas. Não retêm nada além da emergência sempre mais forte dos integrismos de toda espécie, focalizando suas reflexões preferencialmente sobre o fundamentalismo muçulmano. Ora, parece-nos que a questão é na verdade muito mais ampla e profunda. Não atinge apenas os integrismos, mas muitas das próprias práticas religiosas e as religiões mesmas, inclusive as grandes religiões do Ocidente e as religiões monoteístas.
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