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O Circo das Qualidades Humanas
(Geraldo Veloso e Paulo Augusto Gomes)

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Fui a assistir - apesar do boca-a-boca contrário - ao filme O Circo das Qualidades Humanas (Brasil, 2001) ambientado em Congonhas, lançado por quatro diretores, entre os quais Geraldo Veloso e Paulo Augusto Gomes.
O cartaz, imitando manchetes de jornais sensacionalistas, destaca os principais acontecimentos do roteiro: rapaz psicótico é assediado por irmã; portuga é assassinado no bar Abre-Campo, modelos chegam de São Paulo para sessão de fotos em cidade histórica, engenheiro desaparece junto com mulher misteriosa, etc. Chamou-me a atenção uma manchete que, infelizmente, não costuma aparecer em jornais brasileiros: quatro cineastas fazem filme polêmico, e lá está a foto do quarteto nada fantástico. Essa apresentação auto-apologética deu uma boa idéia de como os diretores querem se aproximar do povo, ou melhor, do mercado: imitando o jornal Notícias Populares.
Antes de ver o filme, eu tinha lido um lamentável artigo de Paulo Augusto Gomes no jornal O Tempo, intitulado Isso é Cinema, Companheiro. Eu vi artigos de alguns membros escrevendo na Folha de São Paulo a respeito de cinema surrealista, mas não havia nada ali que não fosse tirado do livro Meu Último Suspiro.
Bom, quanto ao filme propriamente dito... Tentei manter a seriedade, até que meu amigo comentou, a respeito do personagem do rapaz ex-drogado e psicótico: “finge que você é normal!” Isso, porque todos davam conselhos ao ex-interno de clínica de desintoxicação com pose de intelectual incompreendido, desde a mãe zelosa até o irmão que lhe passava drogas, apesar da proibição médica. A partir daí, eu passei a achar graça em tudo, como se estivesse numa chanchada. Pessoas lá atrás fizeram “shhh!” e eu temi que um dos diretores, ou alguém ligado a ele, estivesse presente. Afinal, a proposta do roteiro parecia ser: uma idéia na cabeça e um octopus de mãos.
Os personagens todos me pareciam estereotipados. Havia um intelectual formado na USP e na Sorbonne, no Maletta e no Pelicano (inspirado em FHC?), mas que fez um comentário poético sobre as esculturas do Aleijadinho. O intelectual prozaquiano (ou seria tucano?) voltou para Congonhas sabe-se lá para quê. Acabou trepando: nesse filme de elenco global todos trepam, com exceção do jovem pirado, que fuma de tudo o tempo todo. O engenheiro/coroa gaiteiro foge com Paula Burlamaqui, espécie de moça-fantasma evanescente como uma telenovela. Aliás, o tesão pela Globo e pelo eixo Rio-São Paulo é uma constante. Só que há parcialidade: os bandidos do filme vieram do Rio, enquanto de São Paulo chegou uma caravana féxion de modelos (que posam ao lado das estátuas do Aleijadinho), deixando atrás de si um rastro de sangue, suor, esperma & purpurina. Os bandidos cariocas querem coca, não têm paciência com o homossexual e dono do bar Abre-Campo (“eu vou meter no seu cu com areia”, ameaça entre abundantes palavrões o bandido e único ator negro). Ao final da fita, o circo pega fogo e uma bruta falta de qualidades humanas se faz sentir. A incompletude deste cinema brasileiro dos anos 90 me faz lembrar com freqüência a bela frase de Paulo Emílio Salles Gomes: a penosa construção de nós brasileiros se faz entre o não-ser e o ser outro. Entre Conspirações, Walter Salles e Andruxuxas, oscilamos entre o não-ser da novela e o ser-outro do filme marginal dinamarquês, pixotesco ou iraniano.



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