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A Revolução de Piaget
(Heitor Amílcar)

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A pedagogia nunca mais foi a mesma depois que Piaget submeteu o ensino à necessidade do aluno e não o aluno ao ensino. A inversão, tão simples quanto arrojada, rompeu com a escola tradicional, que considerava que o conhecimento vinha de fora para dentro.
Inspiradas nos conceitos piagetianos, surgiram as chamadas escolas construtivistas, aquelas que partem da noção de que a criança forma seu intelecto aos poucos, em interação com o mundo, como o biólogo demonstrou. Para os construtivistas o importante é formar indivíduos independentes que busquem o conhecimento do seu próprio modo. A autonomia deve ser cultivada pela existência toda, pois enquanto as informações decoradas podem ser esquecidas, a inquietação intelectual e o prazer pelo saber, quando incorporados, fazem parte do indivíduo.
Piaget era um curioso insaciável. Quando menino, na cidade suíça de Neuchâtel, onde nasceu, estudava moluscos. E, com 10 anos, publicou seu primeiro artigo com observações sobre um pardal albino, nada menos. Esse geninho precoce deixou, ao longo de 84 anos de vida, 300 publicações. E recebeu seis títulos de doutor em universidades inglesas, americanas e francesas. Era um homem simples e metódico: acordava às 4 horas da manhã, adorava andar de bicicleta e não abria mão de três meses de férias nos Alpes.
Como biólogo, Piaget descobriu o processo de construção do conhecimento pela criança, desde as formas mais simples de compreeensão até a fase dedutiva e lógica, quando o raciocício começa a elaborar hipóteses complicadas. Mostrou que o ser humano evolui a partir da interação com o mundo. Esse “interacionismo” — para usar uma expressão cara a Piaget — parece óbvio hoje em dia, mas na primeira metade do século foi um ovo de Colombo.
Em 1921, observando experiências no Instituto Jean-Jacques Rousseau, Genebra, o cientista descobriu que o aprendizado era um processo gradual no qual a criança vai se capacitando a níveis cada vez mais complexos do conhecimento, seguindo uma seqüência lógica. Para desvendá-la, elaborou uma teoria do desenvolvimento intelectual por fases, cujo ponto de partida é a posição egocêntrica, ou seja, aquela em que a criança não distingue a existência de um mundo externo separado de si própria.
Na linguagem, o “egocentrismo” corresponde ao período em que a criança não vê necessidade de explicar aquilo que diz por ter certeza de estar sendo entendida. Ou quando atribui seus próprios desejos e características a coisas externas, achando, por exemplo, que “a nuvem está chorando” quando chove ou que um cão late por “saudade da mamãe”.
A partir do egocentrismo, o biólogo percebeu que a inteligência forma-se por meio de adaptações. Por assimilação, a criança vai integrando elementos novos a esquemas já existentes. Quando o esquema torna-se insuficiente para responder à novidade, é modificado. Assim, para aprender a chupar um canudinho processa uma “acomodação” no conhecimento que possuía antes, o de chupar a mamadeira. Desse jeito, interagindo com o mundo externo, vai reduzindo gradualmente o egocentrismo.
Em 1929, Piaget assumiu o cargo de diretor assistente da Universidade de Genebra e começou a redigir a sua “epistemologia genética” — uma teoria biológica sobre a construção do conhecimento humano. A primeira fase da inteligência chamou de sensório-motor porque, nela, o conhecimento é marcado pelo contato físico e sua fonte é o objeto: para se ter a noção de um lápis, é preciso tocá-lo, levá-lo à boca e (num estágio bem mais avançado) rabiscar com ele.
Na segunda fase, as atividades de representação, como o jogo, o desenho e a linguagem, põem a criança em contato com o conhecimento produzido pelos que a cercam. Nesse intercâmbio mais dinâmico com o ambiente surgem os primeiros ensaios de operações abstratas, por isso ela foi batizada de fase pré-operacional. Aí, o pensamento passa a ser elaborado com uma linguagem interior e um sistema de signos. A criança começa a reconstituir as ações por meio de imagens e de experiências mentais.
A última fase, a operacional-formal, surge quando a criança já é capaz de fazer uma operação ao contrário, ou seja retornar ao seu início. Para admitir que A é igual a B, tem que aceitar que B é igual a A. Essa ida e volta do pensamento exige uma seqüência lógica. Com ela, o garoto já pode relacionar as coisas de modo a prever as situações e criar hipóteses, o que, aliás, é a característica do método experimental na ciência. A grande contribuição de Piaget está em promover o encontro do conhecimento sob a ótica da criança com a visão do adulto e com a ciência, o que até então ninguém tinha feito.
O pensador suíço mostrou que o ser humano tem a capacidade, determinada por sua própria biologia, de raciocinar por si próprio, livre e autonomamente. Segundo o professor Yves de La Taille, do Instituto de Psicologia da USP, a teoria de Piaget salvou o homem, pois tornou-o capaz de superar a ideologia pela ciência, de livrar-se do lastro da tradição pela inteligência e de recusar a autoridade pela reciprocidade. Na verdade, o que Piaget descobriu foi a capacidade dos homens virarem cidadãos.



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