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História da sexualidade 1
(Foucault; Michel)

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O Incitamento ao DiscursoAo nível dos discursos e dos seus domínios, assiste-se a um fenómeno de incitamento ao discurso. É o poder que provoca este incitamento. Foucault fala-nos da Contra-Reforma que se esforça por acelerar o ritmo de confissão do povo. Tenta incutir regras de auto-exame, e deseja saber, em pormenor, o pecado dos pensamentos, desejos, imaginações e deleites da alma e do corpo, através do mecanismo da confissão. Impõe-se aqui como que uma coerção geral de incitamento ao discurso, um projecto de uma discursificação, que pressupõe a tarefa de se dizer a si próprio e de dizer a outro tudo o que se possa respeitar ao mecanismo dos prazeres, sensações, e pensamentos, que, através da alma e do corpo, têm qualquer afinidade com o sexo. O mesmo se passa na literatura, quando é escrito detalhadamente o escândalo dos actos consumados, as carícias sensuais, olhares impuros e palavras obscenas. Nasce então por volta do século XVIII, um incitamento político, económico, técnico, a que se fala do sexo: há um aumento constante e uma valorização cada vez maior do discurso sobre o sexo. Interessa sobretudo, aos agentes de poder, a forma de análise, de contabilidade, de classificação e de especificação do sexo em formas de pesquisas. Não interessa somente formular sobre ele um discurso moral, mas de racionalidade.“Deve-se falar dele como de uma coisa que não se tem simplesmente que condenar ou tolerar, mas que gerir, que inserir em sistemas de utilidade, que regular para o bem de todos, que fazer funcionar em ordem a um óptimo. O sexo não se julga apenas, administra-se. Ele tem a ver com o poder público; exige processos de gestão; o sexo no século XVIII, torna-se caso de polícia.”[1]Assim, o que interessa é tornar mais firme e aumentar pela sabedoria dos seus regulamentos o poder interior do estado. Há uma necessidade de regulamentar o sexo por discursos úteis e públicos. Há uma necessidade de uma política natalista e antinatalista da população. Através de uma economia política da população forma-se toda uma grelha de observações sobre o sexo. Entre o século XVIII e XIX, pode-se falar de outros centros de discurso sobre o sexo. A medicina e a psiquiatria por intermédio da classificação das doenças e perversões sexuais, a justiça penal na sua jurisdição de atentados, ultrajes e perversões, a política, a religião. Por todo o lado, procura-se proteger, separar, prevenir; em torno do sexo, eles irradiam os discursos, intensificando a consciência de um perigo incessante, que por sua vez relança o incitamento a que dele se fale. Interroga-se com sobriedade a sexualidade das crianças, a sexualidade dos loucos e dos criminosos. Questionam-se aqueles que não gostam do outro sexo, classifica-se os seus devaneios, as obsessões, as manias. Nem por isso deixam de ser condenadas mas são escutadas. “Esta nova caça às sexualidades periféricas acarreta uma incorporação nas perversões e uma especificação nova dos indivíduos.”[2]A mecânica do poder que persegue toda esta variedade não pretende suprimi-la senão atribuindo-lhe uma realidade analítica, visível e permanente. Inaugura um princípio de classificação e de inteligibilidade, constitui-a como razão de ser e ordem natural da desordem. Por outras palavras, disseminando as personagens, pode semeá-las no real e de as incorporar no indivíduo. “Esta forma do poder exige, para se exercer, presenças constantes, atentas, curiosas; supõe proximidades; procede através de exames e de observações insistentes; requer uma troca de discursos, através de perguntas que vão extorquindo confissões e das confidências que ultrapassam as interrogações. Ela implica uma aproximação física e um funcionamento das sensações intensas.”[3] O contacto desenfreado pelas formas do poder com os corpos e a sexualidade provocou em si o chamamento da sexualidade. Nasce aqui uma sensualização do poder e benefício de prazer, ao qual é conferida uma impulsão ao poder pelo seu próprio exercício. Por outras palavras, “o prazer difunde-se no poder que o persegue (…) prazer de exercer um poder que interroga, vigia, espreita, espia, rebusca, apalpa, traz à luz; e, do outro lado, prazer que se ateia por ter que escapar a esse poder, fugir-lhe, enganá-lo ou mascará-lo.”[4]Foucault chama a este jogo sexual as espirais perpétuas do poder e do prazer. Assim, desta forma, será necessário abandonar a hipótese segundo a qual as sociedades industriais modernas inauguraram acerca do sexo uma idade de repressão. Pois verifica-se exactamente o inverso. A partir do século XVIII e século XIX até ao nosso século, nunca houve mais centros de poderes e jamais houve mais atenção manifesta, mais troca de informação, maior afinidade, maior curiosidade em relação ao sexo, maior laço de ligações, e sobretudo, maior entre cruzamento entre o prazer e o poder.[1] FOUCAULT, M., A História da Sexualidade I, p.28.[2] IDEM, p. 46.[3] IBIDEM, p. 48.[4] IBIDEM, p.48-49.



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