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Entre o Púrpura e o Amarelo: José Agrippino e Mautner
(Lúcio Jr)

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1. Introdução


A relação entre Deus da Chuva e da Morte e PanAmérica foi comentada no prefácio de Caetano Veloso para a terceira edição do livro PanAmérica, de José Agrippino de Paula. Essa ligação esteve ausente da bibliografia por mim pesquisada a respeito do texto, o que mostra que se trata de um assunto ainda não pesquisado. Evelina Hoisel, autora de uma dissertação pioneira a respeito de Agrippino, falou no caos presente no final de PanAmérica, mas não estabeleceu a relação com o “kaos” tematizado com Jorge Mautner, que é o kaos com k, algo diverso da confusão e a anarquia propriamente ditas. Antes de tratar de Deus da Chuva e de Sexo, retomo o estudo de PanAmérica para esclarecer melhor algumas passagens.


2. Supercaos e Kaos


No prefácio a PanAmérica, Caetano (que não é propriamente uma autoridade em literatura) diz que o texto deve bastante a Deus da Chuva e da Morte:

Ele ecoava, é verdade – como vim a ver depois --, o Deus da Chuva e da Morte, de Jorge Mautner. De fato, esse livro de Mautner ofereceu inspiração para muito do que há em PanAmérica. Mas José Agrippino parece ter escolhido uma das vozes do Deus da Chuva – aquela menos lírica, aquele em que os tons da compaixão e da doçura cristã (assim como os aspectos da “brasilidade”) não entram como harmônicos – e aferrou-se a ela, fazendo de seu livro um objeto limpo, inteiriço, sem porosidade e sem contemporizações. (VELOSO, 2001, p. 6)

O texto de Mautner foi escrito em terceira pessoa, diferente do de Agrippino (sempre em primeira pessoa). O texto inicia-se falando sobre “ela”, uma mulher com quem um “ele” anônimo dialogou. Existem repetições que lembram as presentes em PanAmérica, objetivando produzir um efeito estilístico:

Depois eu fui para casa e me deitei na cama. Liguei o toca-discos e o Rock existiu. Eu fiquei alguns minutos sem olhar qualquer coisa definida. Depois pouco a pouco comecei a olhar a veneziana do meu quarto e ela é verde e cinzenta. Não estava chovendo mas eu olhava a veneziana e comecei a pensar no que ela me tinha dito: “deus da chuva e da morte”. Era um título dado a mim e eu comecei a separar as letras e brincar com as palavras (...). Lá fora escureceu porque veio a noite e eu dormi a noite toda com o toca-discos ligado. Durante a noite começou a soprar um vento frio estranho e diferente dos ventos de verão e que vinha de lugares distantes. Foi ele que trouxe a chuva e foi com a chuva que veio a tempestade.” (MAUTNER, 1962, p.7)

Talvez seja a voz ligada à violência e à destruição a tal voz impiedosa que Agrippino reinterpretou: “Estava tudo destruído e é maravilhoso a gente contemplar algo destruído. Os campos estavam queimados e os vegetais haviam morrido e a terra vermelha e brutal se mostrava com orgulho” (MAUTNER, 1962, p.18). No texto de Mautner, as repetições seriam para compor um estilo. Não nos parecem poder ser associadas à obra de Andy Warhol, tal como as de Agrippino. Um exemplo das construções comuns no estilo de Mautner: “O sol estava triste mas quem é mais triste que o sol é a chuva. E o sol foi ficando tão triste que começou a chover.” (MAUTNER, 1962, p.31)
Em determinado momento, tal como em Agrippino, as personagens não são nomeadas: “Eu vos cumprimento menina dos seios desenvolvidos e menino rico. Seremos talvez amigos. Eu vos cumprimento também pintor primitivista. Faz tempo que nós não nos vemos” (MAUTNER, 1962, p.35).
Noto que Maunter se referiu a personagens negros: “Eles ficaram em silêncio. O negro de quarenta anos olhando para o Jorge e o negro de vinte e poucos anos também olhando para o Jorge e o Jorge olhando para os dois” (MAUTNER, 1962, p.45).
Retirei, para efeito de comparação, uma passagem de PanAmérica que se referiu aos negros: “Eu saí da sala me despedindo da numerosa família e fui para o fundo do quintal, onde estava a menina de quinze anos de pernas abertas, e quando me aproximava vi o cantor Frank Sinatra abotoando as calças e me cumprimentando sério. Frank Sinatra devia estar fazendosexo com a menina, e eu pensei em ir primeiro à privada e depois subir em cima da menina de quinze anos, que já estava ali de pernas abertas. Entrei na privada estreita e o negro que morava na privada saiu” (PAULA, 2001, p.239).



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