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Antropofagia e Autofagia na Verdade Tropical (Parte 1)
(Lúcio Júnior)

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Pretendo neste trabalho analisar o capítulo do livro Verdade Tropical em que Caetano Veloso fala da influência de Oswald em seu trabalho, e se apresenta implicitamente como continuador do escritor modernista e do projeto antropofágico-oswaldiano. Antropofagia(s) Oswald foi descoberto por Caetano através da peça O Rei da Vela, dirigida por José Celso Martinez Corrêa, narra o compositor em Verdade Tropical. Dali por diante, a busca violenta pelo novo dos concretistas, opondo-se à geração de 45, ganhava um aliado no campo musical que desejava absorver o iê-iê-iê, conciliando-o com a herança da bossa nova. Podemos dizer que, para se afirmar como figura de primeira grandeza na música popular brasileira, Caetano confrontou o projeto nacional-popular da esquerda ligada ao regime caído em 1964. Semelhante estratégia adotaram os irmãos Campos e Décio Pignatari, que propunham uma poética de invenção no consumo de massa, e também tinham rompido com o nacionalismo de esquerda após um curto “salto participante” no início dos anos 60. José Celso se encaminhava, com O Rei da Vela, para um teatro que seria uma experiência radical de explosão do irracional, reafirmado quando dirigiu a peça Roda Viva, de Chico Buarque. Pelo menos assim Caetano o viu em 1967. Mas Oswald seria para Caetano um denominador comum que dava coesão às suas várias influências: De fato, se eu fora rejeitado pelos sociólogos nacionalistas de esquerda e pelos burgueses moralistas da direita (...), tivera o apoio de (...) ‘irracionalistas’ (como Zé Agrippino, Zé Celso, Jorge Mautner) e ‘super-racionalistas’ (como os poetas concretos e os músicos seguidores dos dodecafônicos). (...) Uma figura, contudo (...), era visível por trás desses dois grupos que nem sempre se aceitaram mutuamente: Oswald de Andrade.1 Prosseguindo em seu relato, Caetano se refere à reação ‘racionalista’ de Augusto Boal quando viu a montagem de O Rei da Vela. Boal preferiu Vianinha a Zé Celso. Em O Rei da Vela, dizia o dramaturgo politizado, as figuras caricatas do “burguês decadente”, do “agente do imperialismo” estavam ambientadas no contexto político, apesar da forma simplista. Em Oswald, dispostas anarquicamente, delas só se depreendiam julgamentos morais, como o burguês “corno”, o aristocrata “homossexual”, o arrivista “filisteu” e daí por diante. A leitura que Caetano faz de Oswald concilia duas manifestações culturais: o concretismo e o teatro de Zé Celso. O ritual canibal passa a funcionar como cena inaugural da cultura brasileira, o próprio fundamento da nacionalidade. Novamente, reaparece aqui Oswald como denominador comum utilizado por Caetano. Os tropicalistas passaram a se servir do mito antropofágico, popularizando-o. Caetano defende a apropriação oswaldiana feita por ele, Gil e outros do questionamento elaborado pelo psicanalista Contardo Calligaris no início dos anos 90. Segundo Calligaris, o mito é nocivo por ser sintoma de nossa doença congênita de não-filiação, da ausência de um “nome do pai”, de um significante nacional brasileiro. Caetano responde de maneira contundente: Mas sua argumentação só me parece aceitável se considerarmos que ele está ali agredindo um uso que se fez de tal mito e lhe pareceu contribuir para a manutenção de um estado de coisas lastimável, não a intuição mesma de Oswald em sua perspectiva própria (...). Trazer de volta – como ele fez – ao meramente orgânico o ato antropofágico ritual que Oswald emprestava dos índios (...) como receita de um comportamento criativo em tudo diferente do que freqüentemente se faz no Brasil – nos congressos psicanalíticos ou fora deles – era forçar a mão para, numa sanha diagnosticadora, meter num mesmo saco a mediocridade dos misturadores de informações mal assimiladas e o gesto audaz de um grande poeta. (...) Tal como a vejo, ela é antes uma decisão de rigor do que uma panacéia para resolver o problema da identidade do Brasil.2 A tese central do livro de Calligaris (que Caetano não cita em seu texto integral, nem sequer o título) é anunciada como sendo a seguinte: O colonizador (que deixou a terra-mãe para exercer a potência do pai sem interdito na nova terra) e o colono (o imigrante que veio esperando do colonizador uma interdição paterna que fundasse uma nova nacionalidade, e só encontra um uso escravo do seu corpo, confundido pelo colonizador, como o corpo dos negros, com a terra que deve ser exaurida sem limites) são as duas instâncias da mente brasileira que produzem a frase (...) ‘Este país não presta’ 3. O próprio nome do país, assinala Calligaris, é o nome de um produto de exploração rapidamente esgotado. Caetano argumenta que Calligaris conheceu a Antropofagia já triunfante, e que ela foi a corrente modernista que encontrou maior resistência, senão total rejeição, desde os anos 20 até o final dos anos 60. Segundo o tropicalista, assim que a Antropofagia ensaiou uma volta no concretismo, foi penalizada pelo bom senso. “Anticorpos” contra ela atuaram também na época do tropicalismo. Calligaris nota que há na Antropofagia uma tendência a tentar tornar o Brasil exótico tanto para turistas quanto para brasileiros.



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